JÃO COITADO...OU ENROLADO?

Embora houvesse motivos para eu crer que em nada ele mudaria após nossa conversa, meu compadre dirigiu-se para a lavoura, trabalhou o dia todo numa alegria contagiante como se nada tivesse acontecido anteriormente com respeito ao seu procedimento se escondendo do trabalho.

Brincou durante o tempo inteiro com seus colegas de trabalho até ao final do dia. Em diversas ocasiões perguntarem-lhe se havia visto passarinho verde, tamanha aquela sua euforia.

No outro dia, sábado, ele foi o primeiro a chegar.

--Bom dia cumpade pensou qui ieu num vinha né , ma ocê mim dexô curioso Ca mixida do juiz cocê falô, ieu quero coce mim isprica esse negoço de juiz qui num intindi foi nada!

O que eu quis dizer compadre é que a partir de agora você será seu próprio juiz suas ações irão te julgar, sua sentença será redigida por você mesmo, de acordo com sua forma de agir terá o que merece, eu cansei e não direi mais nada com respeito ao seu viver, por mim se nunca mais voltar ao trabalho, não me verá mais a sua procura. Sinto muito por sua família,mas paciência tem limites, e a minha esgotou.Está mais do que na hora de pensar em seus filhos ,você precisa colocá-los na escola e agindo como você age jamais terá condições de dar eles o necessário para que se cresçam com dignidade e possam se orgulhar do pai.

Quando os demais chegaram, ele já estava no eito. Alguém argumentou a respeito, dizendo esta preparando um novo bote no patrão Joãozinho? -- No que ele retrucou:

--De hoje pra diante oceis vai ver ieu num vou farta nenhum um dia no trabaio, pra mode qui ieu quero arruma um jeito modeu compra ua cafua. Quando ieu me mudá daqui quero intra pra minha própria casa nem qui seja um ranchinho de capim, océis vai ver o qui João Coitado é capais. Ninguém acridita nieu, ma oceis vai ver. Vou dá istudo, pus meus fiios fazer gente boa deze.

Trabalhou numa disposição jamais vista durante aquele dia. Domingo de manhãzinha la estava ele:

--Ieu vim mode ver se ocê vai oh num vai-me arrumá a semana de sirviço adiantado e a carroça mode ieu fazê minhas cumprinha e trazer a muié ma os minino, cu pai dela já deve de ta é sortano fogo pás venta, pumode quiez ta La dano dispeza pra ele.

-- Compadre a carroça não é problema nenhum, você leva o leite, deixe La os latões para trazer na volta, e siga sua viajem, mas o problema está no adiantamento. Como confiar em você, se vive escondendo do trabalho, crie juízo homem que exemplo você tem dado para seus filhos.

--Ma ieu agora vou mudá memo prece sol qui alumiano dagora indiante ieu soto home.

-- Quantas falsas promessas, já me fizesse, será que vou ter que pagar pra ver seu mau procedimento mais uma vez compadre? Ah como eu queria acreditar em você! Mas depois de tantas decepções, você mesmo criou essa situação de descrédito.

-- Ma mindá mais ua upurtunidade cumpade ocê vai ver qui to memo mudano, socê num mim dé chancha cumu qui ieu provo procê qui virei Oto!

Diante daquela situação eu me coloquei no seu lugar invertendo nossos papeis. Imaginei aquelas crianças subnutridas esperando a chegada de algo para se alimentar, e ele chegando a sua casa de mãos vazias, embora sendo o único responsável pela situação. Demorei um pouco na resposta e concluí. Que mais uma oportunidade ou menos uma não me faria diferença depois de tanta enrolação de sua parte. Acabei por atender sua solicitação, imaginei que seria mais uma semana com ele se escondendo do trabalho.

Para minha surpresa ele fez sua viagem voltando sóbrio o que, aliás, não era normal,na segunda feira compareceu, trabalhou durante os seis dias,desta vez trabalhou a semana inteira coisa que há tempos não acontecia. Continuou várias semanas, sempre sonhando em construir seu casebre. Com isso adquiriu certa credibilidade com seus colegas de trabalho que se propuseram ajudá-lo, com a mão de obra na construção de seu rancho. Mais capitulo pitoresco que contarei numa próxima oportunidade.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 28/11/2013
Reeditado em 30/11/2013
Código do texto: T4590718
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