TRABALHÃO DANADO

Lembrei dum “causo”, agorinha. Sabe o Luizim, que é casado com a Maria Remela, que é filho da dona Zóca, viúva do finado seu Santinho do Zóio Torto, que Deus o tenha? Então! Se você já conhece, nem carece de eu contar o “causo”, porque você já deve de saber da preguiça “disgranhenta” desse homem... Mas, se não conhece, lá vai.

Noutro dia, parece que era uma segunda-feira daquelas bem ranhetas, Luizim precisava ir até o banco assinar uma papelama pra receber um dinheiro do governo. E dinheiro do governo, você sabe como é, né? Assinou, trouxe duas testemunhas e reconheceu firma... Tá na conta! E era um dinheiro desses, certinho, certinho, que “o marmota” do Luizim tinha pra receber naquela segunda-feira... Pergunta se ele foi. Foi nada!

“Mas porquéqueocênumfoi, meu fio” , perguntou em tom de reprimenda a dona Zóca. “Ah, mãe... fui não... Deixa potrahora. Já pensou? Eu tinha que esperá abrí o cartório, ficá na fila, esperá o moço chamá, espera eles carimbá, esperá eles mandá pro outro moço do lado pra assiná, esperá chamá de novo na fila, esperá pagá, esperá o recibo pra depois leva tudo lá no banco e ainda esperá pra recebe o dinheiro?... Ô, mãe! É um trabalhão que num tem tamanho! Fui não!”

E a última do Luizim foi na semana passada, quando a comadre Cidóca, atarantada com o trabalho que sempre aumenta no armazém nessa época de festas, pediu pra ele um favor, um favorzinho dos bem simples. “Ô, compadre Luizim? Ce me faz um favor pra mim que eu to ocupada? Ce num qué ponhá esses cartão de Natal no correio pra mim não, compadre?” E o Luizim só fez assim, enquanto colocava o copo de cerveja sobre o balcão: “Huuuuummmm.... Se a comadre qué que eu ponho eu ponho, ué!”

Daí a comadre Cidóca disse assim pro Luizim: “Tá aqui os selo, os envelope com os nome direitinho e os cartão! É só colá um selo em cada envelope, colocá os cartão dentro, fechá e colocá na caixa do correio. Faz isso pra mim?” E o Luizim, prestativo como ele só, me veio com essa: “Ô comadre Cidóca, será que não dá pra deixar isso potrahora não? Vou tê que passá a língua em vinte selo, colá os vinte selo nos vinte envelope, ponhá os cartão dentro, fechá os envelope pra só depois ponhá no correio? E aí eu chego lá no correio vai te uma fila dos quinto... Num é má vontade minha não, comadre, mas vai dá um trabalhão danado. Se os cartão servi pro Natal do ano quem, deixa comigo. Mas se tiver muita pressa... Me vê mais uma cerveja...”

Marcos Gimenes Salun

(maio de 2005)