O MILAGRE DAS FREXA

Pessoá!

As veis a vida na roça fica qui neim as da cidade, mas na verdade, é tudo iguá o que se muda são as intensidade.

Um dia, já se ia a noite se embrenhando nas madrugada, dispois de ir longe, tocano a boiada, e já se avortano pra casa, pulô nas frenti do meu pangaré, um outro pião muntado no seu cavalo e eu caí no chão.

Tava eu alí, esparramado no chão duro, na frenti de um ladrão que tacou cum revorve no meu pescoço anunciano o assarto.

Falei pur amô de Deus moço, num judia deu não! Sô novo, tenho pai e mãe que tem precisão da minha vida, minha labuta é difíciu mais tenho muito ainda que vivê! Leva tudo homi! Mi humilha, mi martrata, só num mi mata!

Mais aqueli homi perdido, na vida vagano, num tem coração, só mardade sem piedade, cumeçô a me batê cuns revorve pra se vê se o caipirinha tinha medo, se se borrava, antis de puxá o dedo e minha vida se tirá.

Quano então se encosto o revorve na minha cabeça e me mandô rezá!

Eu, que nunquinha se apreguei cum santo argum, que nunca se aprendi a rezá, era só pecadu, improrei por sarvação.

Alí, cuns coração isprimido, cramei pur um monti de santu, uns num mi respondêro, divia de tá tudo ocupadu cuns outro pidido mais necessitado e os otru num mi escutaro, se adivia tá tudo durmindo naquela madrugada. Fui cramando, fui pidindo, fui chamano tudu quanto era santu!

Di repente um crarão que alumiou inté o céu, a lua se sumiu e dispois vortô e tudo se escureceu novamenti.

Quano consegui prumá ozóio, tava alí, estiradinho no chão o marvadu du ladrão, mortinho, cum as frexa incravada no coração.

Num sabeno de ondi se veio aquela sarvação, nois gritô, chorô, berrô, acretitano que os milagri aconticeu. Se ajuelhei, naquele chão deonde quese morri, olhei pro seu crareano e se preguntei, cum as voiz cansada e chorada, quem será que escurtô minha cramação que me atendeu? Mais nenhum se arrespondeu!

Já di tava se amanheceno, as alegria de tá vivu me aqueceno, quano entremo na Catedral.

Cada santu que ieu via, se agradicia, jurava e prometia sempre di sê leal.

E ia passano frente os santu e agradeceno, inté que escurtei uma vois me dizeno pra num tocá nas image, me avisô o sacristão, pois ninguém se ixpricava uma frexa que fartava nas image de São Sebastião.

Inté pessoa!

Brigadu meu sarvadô!

Sodade da sinhá!