UM PRESENTE NA HORA DA MORTE


Segundo dizem as doutrinas do cristianismo, podemos salvar a alma, através da sublime prática da caridade. A caridade é um perfeito passaporte para um cristão entrar no reino de Deus. Praticar o bem dividindo com aquele mais necessitado, um pouco do pão nosso de cada dia, com amor e desapego, é emprestar a Deus e a certeza que na hora da morte o espírito santo comparece para levar sua alma a ele, o nosso criador, no seu reino celestial. Eu pude comprovar isto com a história a seguir.
Tia custodia como era chamada foi uma pessoa pura amável e caridosa, parecia adivinhar, quando as pessoas necessitavam de ajuda. Estava socorrendo não só com bens materiais, como também com sua amizade, levando sua palavra de fé cristã. Isto foi comprovado por minha avó materna, que passou por grandes dificuldades na criação dos filhos, com o meu avô, seu marido, acometido por uma moléstia não diagnosticada, vivendo na cama sem poder trabalhar por quase vinte anos tendo que ser cuidado como se fosse um bebê. Vovó na sua maquina de costura, mamãe e minhas duas tias mais velhas, trabalhando na enxada para ajudar manter as despesas da casa, ao todo foram quatorze, os filhos de vovó.
Segundo ela me contou, não fora poucas as vezes que não sabia como faria para preparar o jantar dos filhos. Sentada na sua maquina de costura, ela rogava aos céus apelando para providencia divina, e sempre foi atendida. De repente, do nada surgia uma ajuda, às vezes sua própria mãe, minha bisavó Isaltina que embora morando distante sentisse as necessidades da filha. Noutras ocasiões a tia Custodia aparecia como um anjo enviado por Deus, ora trazendo o arroz o feijão que faltava, ora com a gordura de porco que era o alimento mais valioso e mais difícil de adquirir naquela remota época.
Maria Custódia, mas carinhosamente chamada por Custodia, era Irmã de meu avô paterno portando minha tia avô. Uma mulher pura, um anjo de pessoa. Temente a Deus e educa por natureza. Não teve filhos biológicos apenas um filho adotivo. Que faleceu prematuramente. Eliminado pelo alcoolismo.
Casada com Augusto Nazário. Quando envelhecidos necessitando de cuidados especiais, papai passou a ser o arrimo do casal. Após o falecimento do tio, meu pai levou tia custodia para nossa casa. Não nos aborrecia com nada. Mamãe teve para com ela um carinho todo especial. Eu admirava aquele tratamento sendo ela apenas tia de meu pai. Só mais tarde quando eu soube o quanto minha família materna foi ajudada por ela, pude compreender que ela estava colhendo o que semeou ajudando minha avó, ela plantou para colher a ternura e carinho de minha mamãe.
Mas tia Custodia sempre rezava e pedia a Deus que não a deixasse ir para cama preocupada em não dar trabalho, queria uma morte súbita. E foi atendida. Numa tarde passou mal repentinamente.
Como ela morava em dois cômodos na porta da cozinha de nossa casa. Mamãe notando que ela não estava bem a conduziu para um quarto dentro de nossa casa, embora febril ela protestasse dizendo que não queria dar trabalho. Devido à gravidade do seu estado ficamos todos em vigília inclusive alguns vizinhos. No seu ultimo momento de vida testemunhamos uma provação de sua fé. Um fenômeno, que nos deixou a todos perplexos com o fato ocorrido.
A noite muito escura, coberta por um denso nevoeiro, duas horas da manhã cerca de uns quarenta pombos saiu dos seus dormitórios no paiol e pousaram no telhado da casa sobre o quarto no seu leito de morte, fizeram uma grande algazarra arrulhando talvez uns cinco minutos. Justo no momento em que ela entregou sua alma a Deus, e partiu tranquila e serena com um semblante sorridente. Mamãe sempre afirmava que o espírito veio recolher sua alma através daquela manifestação dos pombos. Parece incrível, mas é verdade, numa escuridão tremenda como aquelas aves foram se manifestarem?

"É a vida como ela é. Semeando amor e afeto através da caridade, colhe carinho ternura e felicidade. Se ao contrário semearam ódio discórdia e falsidade só poderá colher adversidades. "

 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 20/01/2014
Reeditado em 05/02/2014
Código do texto: T4657279
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.