Cantada

Lúcia era uma moça delicada e recatada. Moça de família, homens direitos a respeitavam. Com seus vinte e poucos anos, estudava na Faculdade Federal de sua cidade. Toda manhã seguia para o ponto de ônibus, algumas quadras longe de sua casa. Em seu caminho, passava em frente à uma construção. Barulho insuportável, homens trabalhando sem muita preocupação. Toda dia, quando passava em frente, recebia alguma daquelas cantadas clichês:

- Ô gostosa, hein?

Já estava acostumada àquela provocação diaria que já nem se importava mais. Fingia não ouvir aqueles homens suados e sujos que mais pareciam animais no cio.

Em um certo dia, acordou atrasada para a aula. Mal humorada, saiu depressa de casa sem nem dar um beijo no pai, como fazia de costume. Logo cedo não estava com paciência para nada. Nem para as malditas cantadas.

- Ô meu anjo, vem aqui me dar um beijinho g...

Sem deixar o homem terminar sua “tarefa”, Lúcia foi logo falando:

- O que você quer? Dormir comigo? Vamos ali então para um motel perto daqui, vem, é só andar algumas quadras.

- ...

- E aí? Vai ficar quieto agora?

- Que isso, moça, sou casado. Dá licença.

Gabriela Gusman
Enviado por Gabriela Gusman em 01/05/2007
Reeditado em 01/05/2007
Código do texto: T470471