Data vênia,..., quem convocou o gramático? (EC)

Para iniciar mais um desafio EC, recorri ao meu já antigo Dr GOOGLE e encontrei em uma indagação acerca do significado de “‘colocar os pingos nos is” no portal br.answers.yahoo.com, feita por alguém cujo perfil encontra-se desativado há 7 anos (por este motivo não tive como citá-lo...) que me soou bem interessante e exatamente por este motivo fiz questão de repassar por aqui.

**********************************************************

A adição do ponto sobre a letra “i” data do século XVI. Quando os caracteres góticos foram adaptados, dois “is” juntos (ii) eram confundidos com a letra “u”. Para acabar com o problema, as pessoas passaram a acrescentar o acento gráfico til (~), o apóstrofo e outros sinais, até que esses acentos se transformaram em pontos simples a partir do começo do século XVI. A prática não foi muito bem aceita por alguns copistas da época, por isso a expressão “colocar o pingo no i” significa resolver alguma coisa.

**********************************************************

Severino era um camarada altamente explosivo e que ‘ia totalmente à loucura’ quando questionado por qualquer uma sua afirmação. Chegava a ser deselegante e grosseiro até com madames com as quais estabelecia algum diálogo.

Embora culturalmente limitado, gostava de utilizar expressões rebuscadas que ouvia, visando sempre dar uma conotação de maior impacto em suas afirmações.

Era comum ouvi-lo exclamando com ar de intelectual, até ditos utilizados no meio jurídico, tais como: Data Vênia, Grosso Modo, Não Obstante, Via de Regra, Reitero, etc. Justamente por ter formação cultural que deixava desejar, por vezes incluía ditos que não condiziam com o sentido que queria dar dentro de sua explanação e nessas ocasiões, quando era corrigido, tinha repentes de quase insanidade contra seu interlocutor.

Normalmente, por ter situação financeira razoável devido ao apurado tino comercial, que o levou a certa ascensão social, era convidado para participar de encontros que envolviam personalidades diversas de várias áreas de atuação de sua pequena cidade.

Foi quando o Rotary Clube de sua cidade, entidade da qual fazia parte desfilando ‘seu garbo’ dentre os figurões proeminentes que dominavam a região, promoveu uma palestra com um iminente gramático, conhecido pelo grande conhecimento e domínio do idioma que tinha.

O pseudo letrado Severino contava os segundos, os minutos, as horas e os dias que custavam passar até chegar a aguardada data. Para ele seria uma grande glória mostrar a todos aqueles diplomados que dominava o vernáculo em escala muito superior a eles próprios.

O grande dia chegou e todo o clã da elite lá estava dando o ar de sua graça, ao menos para figurar nas colunas sociais dos jornais que compareceram em massa para cobertura do aclamado evento.

Delirantemente aplaudido por seus anfitriões, o palestrante iniciou a palestra de forma branda, avançando nos conceitos, no uso correto do linguajar à medida que seus encadeamentos iam se fechando. Era de fácil percepção que a grande maioria dos presentes sentia ‘certo incomodo’ quando a alusão era feita à forma equivocada no uso das combinações, tempos de verbo, uso do plural, encadeamento de ideias em um diálogo, etc. Severino era um dos mais afetados. Não admitia, por exemplo, como era possível dizer-se haja vista ao invés de haja visto na frase: Um homem nunca poderá ser chamado mãe haja vista não poder procriar! ... Sob seu ponto de vista, homem é masculino e o correto seria dizer haja visto...

E o pior ainda estava por vir... Quando o gramático, no alto de seu imenso conhecimento do vernáculo, proclamou: Então, meus senhores e senhoras, é de bom teor colocar pontos nos is, em tudo o que nos pareceu obscuro no que abordamos hoje neste encontro!

Severino levantou-se enfurecido e literalmente rosnou, dirigindo-se para a plateia:

--- Confrades... Creio que metemos os pés pelas mãos quando convidamos este senhor para vir proferir estes ‘ensinamentos’ para nós... Como é que poderemos colocar pontos nos is, como ele referiu em sua última fala? Data Vênia, sabe-se lá quantos is ele utilizou ao longo de toda sua palestra...

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Pingos nos Is

Saiba mais, conheça os outros textos:

http://encantodasletras.50webs.com/pingosnosis.htm