Adelaide Louca

Adelaide fumava demais, bebia demais, falava demais. Amava demais e “demuitos”. Tudo em Adelaide era exagerado. Tudo era demais. Os gestos, os suspiros, a maquiagem, o perfume. Tantos laquês, tantas plumas e penhoares...

Um dia, Adelaide enlouqueceu. Do mesminho jeito que a prima Ismália.

Mas, devido ao exagero, sua individualidade era extremadamente exagerada também. Não se pôs na torre a sonhar. Nem desejou a lua, nem tampouco subiu ao céu ou desceu ao mar.

Adelaide construiu um porão e foi lá que se trancou.

A atitude causou um remelexo na cidade. As pessoas olhavam, espiavam, colavam o ouvido à porta do porão, tentando adivinhar o que lá dentro se passava. Por algumas semanas, o porão de Adelaide virou uma espécie de ponto de encontro do populacho. Mas, como tudo na vida, a curiosidade foi arrefecendo, até o dia em que ninguém mais sentiu curiosidade e o porão de Adelaide foi substituído por outro acontecimento.

Hoje, quando alguém se lembra dela, procura esquecer rapidinho. Todos têm medo de abrir a porta do porão e encontrá-la lá, estirada numa "chaise longe", mortinha mortinha.

Pois de tanto exagero, é bem capaz que Adelaide morra duas vezes!

Margot Jung
Enviado por Margot Jung em 09/05/2007
Reeditado em 11/05/2007
Código do texto: T480825