NO MATO SEM CACHORRO

Na década de sessenta do século passado, os primeiros veículos automotivos começaram a ser utilizados pelos fazendeiros. Embora por uma minoria com maior recurso financeiro. No caso os jipes por ser um veículo que se adequava as péssimas condições das estradas. E também Pelo fato de serem os únicos mais acessíveis naquela época ainda quase remota. Muitos fazendeiros não entendiam bulhufas nenhuma de sua mecânica e cometiam tremendas gafes.
Contam que certo ricaço dono de terras a margem do velho Chico, resolveu vender seu jipe e ao descrever seu desempenho ao comprador foi categórico:
- oia ocê ta comprano um carro bão sô, eu ti agaranto, é tão bão que em cinco que eu ando nele, nunca gasto ieu troca o óleo do motor não fura pneu pricisa nem lava. O bicho parece um gigante nessas istrada cheia de buraco, ocê pode anda só de primeira nem pricisa ponha outra marcha qui o bicho rasga tudo.
Ieu tô vendeno ele pra compra um fusca, mim contaro que fusca é danado de bão no barro ieu quero exprimenta.
De fato ele comprou mesmo, um fusquinha seme novo, e certa noite estava ele com seu fusquinha estragado, no centro do povoado do Engenho, a procura de alguém que o socorresse.
Manoel Preto, filho de Maria do Neca, meu amigo de infância. Mané como era chamado, além de um craque em jogo de sinuca, foi um verdadeiro humorista, moleque pra caramba. Percebendo a situação do homem ele disse-me:
-- Eu vou dar uma de mecânico de carro e pegar uns trocados daquele homem.
-- Deixa disso Manoel você vai é arrumar encrenca com o homem cujo m nome fictício era Milo.
Na época não havia energia elétrica, uma escuridão tremenda. O magnata emprestou uma lanterna com alguém, e seu desespero com a situação era preocupante. Aproximando Mané perguntou qual é o problema meu senhor?
--Vim buscar um remédio pra minha filha, que está ardendo em febre, e meu carro estragou, não sei como fazer aqui não tem nenhum outro carro que possa me socorrer, a menina ta muito mal eu preciso voltar rápido, tem algum mecânico por aqui?-
-- O único quebra galho aqui sou eu, não sou grande coisa não, mais entendo um pouco, da na partida vamos ver!
O velho deu partida e nada, Mané logo disse:
-- é tanque vazio tenta de novo! Nervoso ele retrucou:
-- tanque vazio o que sô, ocê num sabe é de nada, meu tanque ta quais cheio.
-- Então o defeito é na tampa do tanque, essa tampa de fusca costuma vir com defeito. Tira ela me deixe ver! Ele retirou a tampa, Manoel a examinou colocou no lugar fechou o caput e mandou-oele dar partida. Por incrível que pareça o carro funcionou. Satisfeito ele perguntou quanto que eu devo:
-- Nada não, o defeito é na tampa quando isso acontecer é só o senhor dar uma esfregadinha nela e colocar de novo, essas tampa de fusca tem mesmo esse defeito, vem de fábrica assim. O velho puxou uma nota de vinte cruzeiros deu a ele de gorjeta e se foi.
Sabe La quantas vezes ele esfregou a tampa do fusca até chegar a sua casa. O fato é que o esgoto do tanque estava entupido quando o ar do tanque acabava o carro parava, ao abrir para esfregá-la entrava ar, o carro rompia novamente. Ficou nesse dilema por mais de uma semana, até que ele o levou ao mecânico. Contando o que havia ocorrido com ajuda do Mané, o mecânico caiu na gargalhada e perguntou, mas o senhor sendo um homem tão esperto, acreditou nisso?
-- Ieu acreditei, pois o negoço deu certo uai!
Se seu carro fica muitos dias parado em sua casa, acontece que tem uma espécie de marimbondo que costuma fazer sua casinha de barro e entupir a mangueirinha no suspiro do tanque, é por ela que entra o ar, estando entupido, o motor não funciona porque a bomba para de puxar o combustível. Vamos ver, deve ser é isso mesmo!
-Ah intão ta ispricado fui ieu qui lavrei um pauzinho de cerne e tapei ela pruque incheu muito o tanque, e tava isperdiçano na mangueirinha.
--Aquele safado intão tava era tirano sarro da minha cara ieu só num vô da nele um isculacho pruque de quarque forma o negoço deu certo omeno pra mim vorta pra casa.
-- Mas eu posso garantir ao senhor que ele também não sabia disso coisa nenhuma, acontece que sua brincadeira deu certo. Ao retirar a tampa entrava ar no tanque e o carro rompia até o ar acabar.
Isso memo sô, ieu num vô nem tê raiva daquele preto não purque ieu tava era no mato sem cachorro quando ele apareceu e feiz a paiaçada cumigo qui no final deu certo.
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 19/05/2014
Reeditado em 19/05/2014
Código do texto: T4811916
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