O Cavalo Velho

Zé Caetano, um fazendeiro do interior do estado, morava numa pequena fazenda que herdou do pai. A propriedade era pequena e pobre, pois não tinha maquinas para tocar a lavoura e o dinheiro era escasso. Tinha uma vaquinha e um cavalo que recebeu como parte da herança. O cavalo era muito bom no andar a galope de fazer inveja aos melhores da região. Na lida diária na fazenda era pau para toda obra. Chamava Corisco.

O tempo passou, o cavalo envelheceu. Já não possuía mais força para o trabalho e perdera a serventia de outros tempos. Passava a maior parte do dia, atrás da casa, debaixo da mangueira. Mas, apesar de velho, ele ainda fazia a alegria dos seus três filhos, Ronaldo, Jorge e Rita, de dez, oito e seis anos.

Zé Caetano é semianalfabeto, porém, portador de uma sagacidade e de uma grande capacidade de vender e comprar as coisas. Como o cavalo já não possuía mais força para o trabalho, ele resolveu vendê-lo. Sua mulher com pena do animal foi contra. Conformou-se por que não acreditava que alguém desse algum dinheiro pelo cavalo, provavelmente, o marido não acharia comprador devido ao estado de decadência do animal. O melhor que poderia acontecer era ele ficar na fazenda ate morrer.

Mesmo assim o Zé se meteu a fazer o negócio. Colocou na feira, onde tinha banca de banana, uma placa de vende-se um cavalo. Apesar de fazer muita força com elogios ao animal do tempo que ele era novo, não apareceu ninguém querendo comprá-lo. As pessoas não se interessavam porque nãotinham a menor ideia de como era o bicho. Zé voltou para casa sem nenhuma proposta de compra.

Na semana seguinte voltou à feira. Logo que chegou, começou a apregoar as qualidades de Corisco aos transeuntes, até que apareceu um senhor interessado no animal e lhe disse:

– Seu Zé, eu conheço um cavalo quando é bom, já criei muitos, por isso preciso ver este, apontou para a placa.

Zé, com ar professoral, explicou:

– Olhe meu amigo, eu posso garantir que o cavalo é muito bom de sela, e no trabalho da roça, inclusive o pessoal lá em casa não quer que eu desfaça dele. Minha mulher vive dizendo que ele vai fazer falta e causará muitas saudades nos meninos.

O homem não se deu por vencido, marcou uma visita à fazenda para ver o cavalo. Zé se aperreou e apelou para um recurso no qual ele era mestre: o seu marketing pessoal. Chamou os filhos e disse-lhes:

- Amanhã quando o homem chegar para ver o Corisco, eu preciso que vocês aprontem uma choradeira. Façam o maior berreiro, pedindo para eu não vender o Corisco.

No dia seguinte, pela manhã, o homem apareceu, perguntou pelo cavalo que estava à venda. O Zé foi atrás da casa e voltou trazendo-o preso pelo cabresto e atrás dele veio dois meninos e uma menina chorando e pedindo ao pai que não vendesse o cavalo. O choro era desesperador. O homem quando viu o cavalo perdeu a vontade de comprá-lo. Era muito velho e magro. Entretanto, vendo o berreiro das crianças, mudou de ideia e decidiu levar o animal, concluindo que se os meninos choravam tanto pelo cavalo, era porque ele tinha qualidades.

Algumas semanas depois o comprador apareceu na fazenda. Zé sentado na frente da casa preparava um cigarro de palha, quando o viu passar pela porteira, montado numa mula puxando o Corisco. Levou um susto danado, supondo que o homem viera devolver o cavalo e pegar o dinheiro de volta. E que susto. Não tinha mais o dinheiro para devolver. Ficou olhando para o dito cujo se aproximando. Quando o homem chegou ele disse:

–Já sei o senhor veio devolver o cavalo.

O homem imediatamente tirou do bolso um pacote de dinheiro e mostrou para o Zé, dizendo:

- Não! Eu vim fazer outro negócio.

- Como? Eu só tinha este cavalo!

-Não quero outro animal, disse o homem. Eu quero é comprar seus meninos para me ajudarem a vender o Corisco.