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Dona Onça Pintada era o terror daquela mata. A bicharada morria de medo de sua brabeza. Quando ela saía para caçar nunca voltava de patas abanando. Sua filhotinha era bem gordinha, pois a mamãe onça tratava muito bem dela.

 
Um dia, Dona Pintada feriu a pata num espinho de paineira e a partir desse dia ficou impossibilitada de caçar... Então, ela e a filhote começaram a emagrecer a olhos vistos. A despensa vazia, a barriga roncando...
 
Precisavam tomar uma providência urgente. Após pensar muito, Dona Pintada teve uma ideia brilhante:
 
—Pintadinha, minha fia vai lá fora e chama o papagaio e fala para ele que ieu murri.
 
—Mamãe do céu, morre não! Num quero ficá suzinha e cum fome  nessa mata cheia de pirigo!
 
—Oncinha, minha fia, larga mão de sê boba! Isso é uma ideia qui ieu tive pá mode nóis arrumá comida. Agora sai e chama o papagaio!
 
O papagaio veio e mandaram que ele anunciasse em toda a floresta o passamento da onça. Assim ele fez:
 
—Atenção! Dona Onça Pintada morreu! Está sendo velada na sua toca,  atrás do pé de ipê roxo. Não deixem de comparecer e dar o último adeus a nossa querida comadre.
 
A triste notícia da morte de Dona Onça se espalhou pela região e muitos bichos até choraram de pesar, afinal de contas, até onça brava vira onça boa depois que morre. O que se ouvia era isso:
 
— A Dona Onça morreu? — Coitadinha tão nova, tão bonita, tão pintada!


— Morreu sim. Tá lá esticada na mesa, mortinha da Silva — disse o papagaio.
 
Os bichos, muito curiosos resolveram ir até lá para ver de perto, se era verdade que o terror daquele mato tinha falecido de fato.
 
O plano da onça era: a hora que todos estivessem reunidos para o derradeiro adeus, ela fecharia a porta da gruta e prenderia a todos para ir comendo aos poucos, até sarar a pata doente.
 
Tudo planejado, ela se deitou no meio da caverna. A oncinha acendeu uma vela de cera, colocou uma flor na sua pata e esperaram pelos amigos que iriam velar seu corpo pintado.
 
A galinha, o jabuti, o macaco, a raposa, o tatu e tantos outros animais entraram na toca e se puseram em volta da defunta. O coelho foi o último a chegar, velhaco, ainda meio na dúvida... Cutucou a onça com uma vara bem comprida, pois onça não se cutuca com vara curta nem quando está morta. Desconfiado por vê-la com um semblante tão saudável, apesar de finada.
 
— Tadinha da cumade! Tão nova e já bateu as botas! Alguém aqui sabe se por acaso ela já espirrou?
 
— Ainda não! Por quê? — perguntou a oncinha filha, preocupada.·.
 
— Uai, porque é tradição das onças pintadas quando morrem dar três espirros! — disse o coelho.
 
Ao ouvir a fala do coelho a onça espirrou três vezes seguidas:


—ATCHIM! ATCHIMM! ATCHIMMM!
 
A bicharada se alvoroçou, enquanto o coelho dizia:
 
—Saúde, cumade onça! Desde quando bicho morto  espirra? 
 
Saiu correndo junto com a bicharada pelo mato afora. Cada um se escondendo como podia.
 
Dona Onça e sua filha ficaram muito sem graça., pois toda a bicharada caçoou delas. Tiveram que mudar daquela mata para bem longe. Só assim se livraram das fofocas e desse modo os bichos puderam viver em paz.  
 
Dizem que até hoje a Dona Onça não perdoou o coelho e vive ameaçando cerca-lo numa curva de uma trilha qualquer... 
 
* Viva as crianças de hoje, de ontem e de amanhã!
Maria Mineira
Enviado por Maria Mineira em 12/10/2014
Reeditado em 12/10/2014
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