O CLIENTE
 
Conheci Mr. Snell quando eu trabalhava com exportação.
Ele costumava vir ao Brasil, pelo menos, duas vezes ao ano.
Era um excelente cliente. Sua firma ficava em Surrey, na Inglaterra.
Quando ele chegava, a recepcionista ia até minha sala e avisava:
"Aquele senhor da calça xadrez já está aí."
Ríamos muito porque ela dizia que ele usava calça de palhaço.
Na verdade, não era bem assim. Sua calça era relativamente discreta.

Mr. Snell era culto, simpático, bem humorado e falante.
Andava pela casa dos setenta e havia me contado que em breve se aposentaria.

Naquele dia ele chegou e foi encaminhado a minha sala, onde trataríamos de alguns embarques que seriam feitos em breve.
Conversamos sobre esses assuntos de negócios e, depois, ele me perguntou se o Diretor da Firma estava disponível para uma palavrinha. Meu chefe havia viajado, mas voltaria no dia seguinte.
Mr. Snell sugeriu, então, voltar nessa data. Eu o avisei que no dia seguinte não seria possível, pois o escritório não abriria. Teríamos a Festa da Independência, o 7 de setembro.

Ele, de repente, me saiu com este comentário:
"O Brasil foi colônia de Portugal, o que você acharia de ser súdita da coroa britânica?"
Pega de surpresa, eu respondí:
"Ser colônia não é bom negócio."
E ele continuou:
"Acho que você gostaria, pois vocês brasileiros teriam a vantagem de assimilar a culinária britânica, o esporte nacional seria o jogo de cricket e, melhor ainda, só tomariam cerveja quente."

E deu uma sonora risada, que acompanhei rindo muito também.




Obs. a culinária inglesa tem fama de não ser das melhores.
Aloysia
Enviado por Aloysia em 19/10/2014
Reeditado em 19/10/2014
Código do texto: T5004555
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