Os artomóve

Ê vidinha essa, hein? A gente már cuméça a pegá gosto e lá vem um pra botá jaca nos doce de abróba! Num tem jeito isso!

Eu fico vêno passá esses artomóve tudo modernoso e fico maginâno aonde é que esse povo arruma esse dinherama pra comprá essas coisa. E diz que tâmo em crise. Já pensô se num tivesse? Eles ia tá andâno tudo era de fuguete.

É verdade... Antigamente pra tê um fordinho tinha que tê borso gordo. Num era quarqué um não, era coisa de coroné pra cima. E a tár da gasolina? Era um postinho só, lá pra perto da Borda. Tinha que andá mais de déiz légua. Hoje não, tá tudo espaiádo. Só aqui na Colonha tem trêis. É artomóve de tudo que é jeito. Daqui uns tempinho vai fartá é ferro véio pra guardá eles quando tudo ficá véio.

É verdade... Diz que lá no Estaudozunidos o povo larga os artomóve véio tudo nas bêra das estrada. Usa um poquinho e já larga. Eles num dão conta de usá os novo que eles inventa. Lá eles num chama de ferro véio, eles chama é ferro novo mesmo.

Aqui não, aqui o povo usa até os úrtimo caquinho. Tem uns que nem serve mais pra fazê tacho, de tão véio que fica. Agora tão querêno pegá as mania dos americano de usá só um poquinho. Tão que tão enchêno o povo de artomóve modernoso pra tudo que é lado.

O único que eu vi que nunca pensô em trocá o dele, foi o Neca do Juquita.

Ihhh! Aquilo tem um amor com o vôquis vágui dele que é capaiz de trocá a muié mais num tróca o bicho. E óia que já fáiz tempo isso, prá mais de quinze ano. O Zezinho fío dele, nem tinha nascido ainda e ele já vivia lustrâno o carrinho com aquela franelinha marelinha. Até hoje é assim.

Teve uma vêiz que ele quase teve que trocá o Belarmino. É o nome que ele deu pro vôquis. Foi quando tava vino lá da Belavista, bem lá no arto. Sabe como é que é aquela estradinha, com curva cheia de torteza, berâno as ribancêra. Junta a chuva que caía, já viu a lizura que ficô. Até de a pé ficava escorregoso.

Lá vinha ele com Belarmino, que já vinha com o motorzinho até vermêio de tanto urro pra subí. Quando chegô bem na vorta fria, o motorzinho garrô açulerado que num teve jeito. O Neca só conseguia virá o volante pros lado, cada virada que dava o bicho curcuviava que nem boi bravo, caía nos buraco e pulava mais arto ainda. Ficáro tudo embaraiado lá drento. Quem tava nas esquerda veio pras direita, quem tava na frente veio pra tráis. Só o Neca ficô firmão, garrado no vulante, com os zoião tudo regalado gritâno: - Víge Maria! Víge Maria!

Diz que ficô assim pulâno de um lado pro ôtro umas trêis hora, até que parô fartâno dois dedinho assim da pirambêra.

O Neca, aí que fechô os zóio e chamô um terço nas reza com todo mundo lá drento.

Eles tava tudo que num se mixia e só na hora que passô o Reimundo com os peão que se animáro de descê do vôquis. A peãzada ficáro tudo ali ajudâno o povo saí de drento do carrinho, que ia saíno e se encostâno no barranco, de tanta tremedêra.

Só o Neca que já saiu e correu pra frente do carrinho caíno de juêlho no meio daquela barrela, oiâno por báxo, de banda, corrêno a mão nas pintura, até que num se guentô e caiu no chôro. Mas num foi por causo do susto não, foi por causo de que ele viu o Belarmino meio desbeiçado da batida que deu nas hora dos sulavanco.

Coitado, ficô que nem que tivesse perdido a mãe, num desconsolo que dava dó. Num teve esse que carmasse ele. Daí pra frente só tira o Belarmino pra andá nas úrtima precisão.

Mas uma coisa é verdade; Ah! Isso é! Se fosse um desses artomóve modernoso, num tinha sobrado nadica de nada.

O Neca quase viu a viola em caco.

Chico Da Mona
Enviado por Chico Da Mona em 26/05/2007
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