UM MAJESTOSO PÉ DE ALFACE
Nesse mundo em que vivemos, no qual o que impera é o materialismo, o culto exacerbado a tudo que é de grife, no qual ostentação é a “chave” para a aceitação em determinados estratos sociais, ainda há quem veja sentido e beleza no oposto, nas coisas simples da vida.
Em uma de minhas jornadas como pintor de paredes na casa de uma família, na qual há um pequeno galinheiro e também uma pequena horta, pude observar que os seus moradores primam por uma vida de certa forma alheia aos modismos.
Certa tarde, pouco antes do por do sol, após regar a hortinha da família, o Sr. Tião observou bem a pequena variedade cultivada, escolheu dentre todos o pé de alface mais vistoso, colheu-o retornou contemplando-o, em direção a casa.
Chegando próximo da edificação, sob os raios dourados e tangentes do sol de fim de tarde, elevou o pé de alface que estava em sua mão e o admirou sob a luz do nosso astro maior.
Foi possível notar o seu orgulho e encantamento com tamanha perfeição da natureza. E maior ainda era a satisfação de aquela alface tão vistosa havia sido cultivada em sua casa, sob os seus cuidados diários.
Adentrou a casa em dali a pouco retornou com sua esposa, a Srª. Ilma, ofertando aquela maravilha a mim.
Previdente, a Srª. Ilma trouxe consigo um saco plástico, daqueles que se utiliza para colocar verduras, legumes, frutas e hortaliças em geral. E com satisfação, ajudaram-me a colocar a alface em seu interior.
Para evitar esquecê-la, tratei de colocar cuidadosamente aquela preciosidade próxima à minha mochila.
Após ter sido servido por um saboroso e reconfortante café, acompanhado de pão com queijo quente, agradeci, recolhi os meus pertences e me despedi do casal.
Para meu desalento, o saco plástico se rompeu e a alface foi ao chão, da altura do braço esticado, voltado para o chão.
A distância ouvi a voz de espanto do Sr. Tião: Oh!
De fato, estando sob a minha responsabilidade transportar até a minha casa algo tão precioso, o mínimo que se esperava é que eu fosse mais cauteloso.
Meio sem graça, providenciei para que isso não voltasse a acontecer, despedi-me novamente e me retirei.
Chegando a casa, após desembalar e admirar o presente, mostrei-o a para a minha esposa Míriam, que também se encantou com tanta beleza.
Fiz minuciosa inspeção e constatei que a queda não havia provocado avaria nas folhas daquele estimado pé de alface.
Também não é para menos, com tantas camadas de folhas cuidadosamente organizadas pela natureza, de forma a que uma ofereça proteção à outra, não seria um tombinho de meio metro de altura que ia macular tanta beleza.