Meus Devaneios na Era da Lua

Amanhecia e eu simplesmente estava dormindo, dormir tarde era uma sina que exigia o despertar em horas mais altas. Durante a tarde eu executava tudo que era preciso e durante a noite estava aberto a conversas. A conversa esta noite não havia sido tão boa e havia me causado certo asco. Era madrugada e tudo que eu tinha que fazer era me lembrar daquela música maldita e colocar tudo para fora. Não, sem antes, pôr minha gata para escutar tudo.

- Mantenha seu olho elétrico em mim gatinha!

Eu falei com certa autoridade enquanto eu colocava a bola de pelos sobre a cadeira. Observei atentamente os olhos dela.

- Veja você, eu ajudei ambos a saírem de abismos pessoais, talvez eles nem tivessem percebido, sabe? Mas eu estava lá quando eles precisaram. Minha voz ecoou quando todas se silenciaram. Meus ombros serviram de base para suas lagrimas. Eu fui fortaleza contra as suas angustias e fui um forte que os protegia das feras que os caçavam. Fui amigo de ambos e tinha uma abertura que eu achava extraordinária com ela. Quando ela não sabia diferenciar verdade de mentira, eu tentei abrir seus olhos e mostrar o verdadeiro. Quando ele não conseguia esquecer-se das dores do passado, eu mostrei as dores do presente e tentando ser um grande amigo eu o confortei.

Suspirei com força, beberiquei uns goles da água que estava em cima da mesa.

- Não finja gatinha, dê a real pra mim... Eu estou errado? Oras! Quando ambos precisavam eu fiz que a Lua vibrasse sobre eles... A Lua trás seus mistérios e seu psiquismo, eles precisavam da ajuda de uma Lua bem definida. Quando eles estavam sozinhos eu fiz Vênus vibrar em vossas direções. Eu criei isto por eles, era uma egregora minha e ela foi claramente profanada! Veja, gatinha... Eu estava tão presente com ela, eu tive tantas histórias interessantes e tantos compartilhamentos e nossa história durou vários meses e nesses vários meses várias coisas foram reveladas e ideias trocadas, eu acreditava estar em um patamar mais importante... Mas bastou ela conhecer ele que em menos de 3 dias, aparentemente ele já tinha a mesma, ou mais, importância que eu. Eu fui amigo dele, entende? Eu estava lá enquanto ele sofria e ele sabia da minha abertura com ela... Mas ainda assim deu corda e passou na minha frente... Não que eu a quisesse, mas quando amigos lidam assim com uma garota e outro estava lá primeiro é sempre bom avisar, senão o “olho é furado” e isso é coisa de covarde! Me faça gatinha, me faça saber que você realmente se preocupa!

Mais um suspiro.

- Então eu fui embora, sabe? Eu fui embora e me livrei desses devaneio da era da lua. Argh! Por tanto tempo eu sofri por não ter amor próprio, por tanto tempo eu me diminui frente aos outros e fiz dos problemas deles, meus. Eu simplesmente cansei de ser tão idiota. Agora o amor próprio falou mais alto, sabe? A velha história do – Dê valor a quem te dá valor. Se não me der valor depois de tudo que eu tentei fazer, e ainda que isto seja egoísta, sim eu irei embora, pois não me permitirei mendigar tão pouco. Já diria um amigo de verdade – “Não tem pão seco.” Não há sofrimento desmedido, não há compaixão exacerbada. Se não quiserem estar abaixo do escudo que jaz em minha mão direita, estarão embaixo da espada que empala na minha mão esquerda. Eu estou mais para a severidade, do que para a misericórdia. Entende? Não havia como ficar lá, não havia como eu aceitar ou ser cúmplice disto! Eu não podia ficar passivo enquanto claramente era diminuído e quando esfregavam minha pouca importância na minha cara. Se eu sou tão pouco importante então eu simplesmente vou embora achar um lugar onde eu seja diamante e não estanho. Você sabe, né gatinha? Eu sou um jacaré, eu sou mamãe-papai que vem para você.

Peguei a gatinha no colo enquanto ela soltava alguns miados.

- Fique calada, você está grasnando como um grande pássaro macaco!

Então eu me retirei de cena, com a gatinha embaixo dos braços. Não havia porque ficar ali, a importância diminuta não era pra mim e eu não estava acostumado a ficar a sombra de ninguém. Eu não ficaria a sombra de ninguém.

Obs: As falas deste texto foram em partes baseadas na canção Moonage Daydream de David Bowie.