O acaso e as regras

Ao meio dia uma chuva forte começou a cair. A claridade que estabelece a distinção entre o dia e a noite se foi de forma repentina. Isso é a natureza dizendo que embora planejes cada passo do seu dia, a vida se encarrega de deixar claro quem realmente está no comando.

Encontrar uma moeda no chão, chegar com atraso ao trabalho, são acasos simples, mas esbarrar com o o ex em um restaurante no horário do almoço é demais para qualquer mulher. Eu adoraria dizer que ela estava bem maquiada e impecavelmente bem vestida, mas a vida não é assim tão cor-de-rosa. Naquele dia, em meio aquele mau tempo a vida estava bem cinza. A verdade é que ela estava vestida como a Cinderela em dia de faxina. Porém tinha o privilégio da beleza, cabelos longos, corpo esbelto, traços delicados no rosto, um nariz desenhado com singular delicadeza, essa era Sonia.

Sonia estava na companha de um amigo e uma amiga. Sobre a mesa estava seu guarda-chuva. Era primeira vez que não o esquecia em dia de chuva, geralmente ela terminava esses dias encharcada. Conhecida por seu bom humor, ao seu redor havia sempre alguém rindo de alguma piada ou de seus comentários inteligentes. Seus amigos gargalhavam ainda de sua ultima brincadeira quando ela o avistou. O relacionamento deles havia acabado há tempos, cerca de ano e meio, e durante esse tempo eles não mais tinham se encontrado. Ela ficou séria ao perceber que ele se aproximava da mesa onde ela estava. Ficou nervosa e na tentativa de parecer natural, ou pelo menos tentando isso, disse:

- Oi - Estava branca, respirar tornou-se repentinamente difícil.

- Oi, Como vai? - Ele tão pouco parecia a vontade.

- Bem - Disse ela de forma audível enquanto pensou que melhor seria se ele não estivesse ali.

Ele deu um beijo na bochecha dela e saiu. Sonia, ainda branca, falou baixinho para sua amiga quem era o rapaz que acabara de sair. No entanto, mal acabou de dizer, ele voltou e como chovia perguntou-lhe se ela tinha um guarda-chuva.

- Sim. Tenho. E vou usá-lo. - Seus amigos não contiveram a risada.

- É bem rápido - Insistiu ele.

Com um gesto mecânico em sem olhar para ele, ela pegou o objeto e o entregou.

Sonia e seus amigos terminaram de almoçar e se encaminharam a saída, enquanto esperava devaneou que isso podia ser um sinal de que talvez eles pudessem voltar...

Seu devaneio acabou quando ela viu que ele voltava, não sozinho, vinha junto com uma moça embaixo do SEU guarda-chuva. Pensou que de fato o acaso quebra as regras e rotinas por nós arquitetados, mas naquele momento Sonia pensou: NUNCA, NUNCA empreste seu guarda-chuva ao ex. Essa foi a regra que nasceu com o acaso.

Suze Rodrigues
Enviado por Suze Rodrigues em 15/02/2015
Reeditado em 16/02/2015
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