O PAPAGAIO E ASOGRA DO BENEDITO




Meio dia com o sol pino, já pisando na própria sombra, Dito não redava os olhos da trilha que o conduzia ao roçado. Nada do seu adorado Nelsinho aparecer com o almoço. Já quase sem forças para balançar sua enxada jacaré de três libras, ele decidiu averiguar o que estava ocorrendo. Algo errado acontecera, ele tinha certeza, sua Mariinha nunca o deixou até uma hora daquelas, sem almoço. Pensativo imaginando mil coisas ele trotava trilha afora, apedrejado pelas alpercatas de couro cru que lhe atirava a terra tombada do roçado nas costas.
Ofegante quase sem fôlego, e bambo de fome, ele descansou seu corpo encurvado, escorando  os braços no portal, e perguntou a Nelsinho, que brincava descontraído, com seus boizinhos de sabugos no chão batido da cozinha.
- Ondé qui tá tua mãe, a Mariinha Nersinho?
- Mãe foi incasa de vó mode acudi ela, vó tava brincano cu papagaio, foi dá um beijo no loro ele rancô metade da língua dela co bico!
Dito ao contrário de muitos adorava a sogra, era órfão de mãe desde o seu nascimento e via nela a mãe que não tivera. Assustado ele perdeu a fome, alias, nem se lembrou mais de comida o resto do dia.Correu até o pequeno povoado onde a sogra residia, mas já haviam a levado ao hospital da cidade mais próxima.
Enquanto Mariinha cuidava da mãe, Dito muito preocupado com a sogra, cuidava do filho e de seus pertences na roça.
O acontecimento virou manchete no jornal e no radio daquela cidade interiorana, aonde quase nada acontecia, e uma sogra sem língua, seria um prato cheio. A velha acabou não resistiu, veio há falecer alguns dias depois, vitimada por um tétano. E o assunto caiu na mídia.

O velório parecia ser de uma personalidade muito importante de tão disputado.
Mariinha e o sogro que acompanharam a velha estavam inconformados, e já não suportavam mais o assédio da população. Quando o Dito desceu do fusca  de  seu compadre, o padrinho de Nelsinho, que foi buscá-lo-, a Mariinha o abraçou muito comovida derramando um rio de lágrimas.
--Dito tentando consolar sua amada disse:
--Chora não Mariinha. Ocê oia um tantão desse de gente mode visitá sua mãe, é sinar quela é danada de quirida desse povaréu tudo pai afora, gente qui nois nuca nem viu muié tai menagiano sua mãe!
--Essa cambada de urubu Dito, tá tudo aí, é pra mode vê se meu sogro vende o papai pra eze, num veio vê a mãe coisa ninhuma! Uáuáuáááá!!!!!!














 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 24/02/2015
Reeditado em 02/04/2015
Código do texto: T5148718
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