O busto do General Sampablo
Determinado Batalhão de Infantaria, desses que se encontram em tantas cidades, precisava de um busto do Coronel Sampablo. herói de guerra.
Como é necessário, nos negócios de Governo, foi feita uma licitação para a confecção da obra, em bronze, como devem ser os bustos e estátuas.
Várias propostas foram recebidas, preços variados.
Entre os proponentes, um fundidor auto-didata, o Sr. Arceu. Irritadiço, mal-humorado, irascível. Mas quase um gênio em fundição de metais.
Abertas as cartas-proposta, o vencedor foi determinado artista plástico, conhecido na então pequena cidade. Também capacitado para executar o trabalho.
Resolvida esta parte, a oficialidade do Batalhão partiu para os demais detalhes da solenidade. Convidaram, na região planaltina, alto Oficial, desses cheios de estrelas gemadas nos ombros, para descerrar o busto do General.
Toda a solenidade organizada, confirmação da vinda do Oficial maior, salgadinhos e bebidas já preparados. Faltava apenas o busto.
Mas, e toda boa história tem um mas, algo aconteceu...
Faltando apenas dois ou três dias para a solenidade apareceram, na oficina do Sr. Arceu, dois militares. Um Capitão e um Tenente. Com um problema.
- Seu Arceu, falou o mais graduado, estamos ferrados! O artista plástico, vencedor da licitação, não cumpriu o prometido. E o homem vem para inaugurar... nada.
O Sr. Arceu retrucou:
- Calma. Vamos lá. O cara não fez nada?
Sim, fez, retrucou o Major. Fez as coquilhas (formas para fundição). Mas alega que não tem como terminar a tempo. E temos só dois dias.
O Arceu, sem se abalar, mandou-os buscar as coquilhas, sem compromisso.
Os oficiais saíram e, logo, voltaram com as peças solicitadas. O Arceu mandou-os voltar no dia seguinte.
Dia seguinte. Fim de tarde. Chegam o Capitão e Tenente. Arceu os leva a um canto e descobre, sob uma lona puída, o busto do Coronel Sampablo.
Incrédulos, os oficiais admiraram o brilhante busto balbuciando: como o senhor conseguiu em tão pouco tempo?
Arceu respondeu: fácil, é gesso pintado!
Capitão e Tenente ficaram com semblantes pálidos.
O senhor está maluco? Como o General vai inaugurar isso?
Fácil, replicou Arceu. Vocês colocam a peça lá, rezem para não chover, o homem a inaugura e fica todo mundo feliz. Em duas semanas entrego a peça em bronze e fazem a substituição. Eu não conto para ninguém, vocês não contam para ninguém.Todo mundo feliz!
Assim aconteceu. Ou assim o Arceu me contou.
Será verdade ou apenas delírio de um velho meio maluco, mas genial?
(18/04/2015, instigado para escrever pela minha irmã Denise, sem colocar nela nenhuma culpa pelo que escreví. Peço desculpas a ela por não me preocupar muito com a forma).