Coroné Jôfe

Coroné Jôfe

Coronel Jôfre do Rego Castello Branco foi um dos homens que entraram para a história de Teresina, por ter patrocinado algumas trapalhadas históricas. Do primeiro “C” de coronel ao último “O” de branco, todo o nome dele era importante. Segundo consta, era oficial da reserva das Forças Armadas e, posteriormente, entrou para a Polícia Militar do Estado no posto de coronel. Tentando adivinhar sua carreira militar, pela lógica, ingressou na polícia como coronel, certamente foi reformado como capitão e, assim, começou a vida militar como terceiro sargento. Nada de extraordinário, portanto.

As más línguas praguejavam que “num sexabia” como ele entrara como professor de Desenho do Liceu Piauiense. Segundo alguns de seus alunos, que eram meus colegas, ele entendia tanto de desenho quanto o Jacó perna de alumínio, engraxate da Praça Rio Branco, entendia de farmacologia, ou seja, “bisulutamente” nada. Não sabia desenhar nem barquinho de papel!

Sua entrada para a política partidária deveu-se a um duplo acidente. O primeiro político e o segundo de sorte. O período militar que foi introduzindo no país, a partir Revolução de 1964, criou algumas figuras bizarras, como os mandatos biônicos. Existiam governadores, senadores, deputados e prefeitos biônicos, ou seja, pessoas que eram nomeadas para funções que, num Estado Democrático pleno, obrigatoriamente teriam que passar pela aprovação das urnas. Os prefeitos das capitais estaduais eram nomeados sem critério algum, pelo governador do Estado.

E assim foi que Helvídio Nunes de Barros, que fora escolhido Governador biônico, nomeou o coronel Jôfre para prefeito de Teresina, mandato que durou de 1967 a 1969. Digamos que foi um tempo que demorou a passar! Foram dois anos e nove meses em que ele se empenhou profundamente para não realizar nada.

Segundo se comentava na época, a única coisa que ele sabia fazer era convocar reuniões com o secretariado e assessores, onde não se decidia coisa alguma. Mesmo assim, depois que deixou a Prefeitura, conseguiu se reeleger vereador por algumas legislaturas, numa demonstração inequívoca de que o povo não sabia mesmo votar.

Durante um desses mandatos de vereador, certa vez, no plenário da Câmara Municipal, querendo aparecer à custa de auto pabulagem, disse para um dos edis:

- Vossa Excelência, fique sabendo que, aqui no Piauí, até agora só não fui Governador, Juiz de Direito e Arcebispo.

Nisso, o oponente, que tinha um raciocínio rápido disparou:

- Então, Vossa Excelência concorda, afirma e escreve com letras garrafais que até o momento, já no fim da vida, não conseguiu ser nada de importante...

Isso causou o maior rebuliço no plenário.

Ainda como prefeito da cidade, ele ordenou à secretária que datilografasse um ofício, convocando o secretariado para uma reunião na sexta-feira...

Coitada da secretária, que também era biônica, atrapalhada com tantas letras, num momento de infelicidade funcional, inadvertidamente se arriscou a perguntar ao prefeito:

- Seu prefeito, “pru” favor, “çesta-fêra” se escreve com Ç ou com dois S?

A resposta ficou imortalizada e ainda hoje ressoa nas praças e rodas de bate-papo de Teresina, aumentando ainda mais o já extenso anedotário da cidade.

- “Sua burra, preste bem atenção quando eu falar. Eu não disse cesta, falei sábudo.”

Assim, por culpa de uma letra, a reunião foi adiada em um dia.

São coisas da minha terra.