o compadre e o advogado
- E aí cumpade, cume qui vai as coisa?
- Uai, num vai nem vem, mema toada.
- Qualé as nova lá da vendo do Zé do Golo?
- Uai, quela pendenga das terra tá do memo jeito, divogado mamano e os qui acham que é dono, vai cabá perdeno é tudo pres.
- O tar de divogado é foda, né memo cumpade?
- Uh, fala não.
- Já te contei quela do açoguero, num contei?
- Contô cumpade, o divogado cobrô a consurta e o açoguero fico sem seu quilo de carne.
- Gora tem uma nova, sabe não?
- Não.
- Quem conto foi a Cacirda, muié lá do Juércio, muié trabaiadera, fazedera de quitandas pro povo cumê.
- Mas cumé qui foi a história cumpade?
- Cê sabe qui divogado é quinem quebra-mola, num sabe?
- Sei cumpade, quinem casamento, um mar necessário.
- Antão. Diz qui um disfeito do divogado que tem terra por aquelas bandas, viu o dito bater num veado, colocar ele na caminhoneta e esfregar as mão dizendo qui tinha carne fresca. Ligo pros florestar qui cercaram o dotô na primera curva do asfarto:
- Documentos, por favor.
- Pois não.
- Parece que o senhor carrega um veado na carroceria, isso é proibido!
- Não senhor, não entende, cuido desse veado desde os tempos que o achei acidentado, ainda filhote, desde então o crio e não tenho coragem de soltá-lo na natureza, ele vai morrer porque o criei como um filho. E se soltá-lo, ele volta pra mim.
- Tem como provar isso?
- Claro, só a gente soltá-lo, dou um assovio e ele volta pra mim.
- Então vamos soltá-lo. Soltaram o bicho cambaleante que adentrou o mato e sumiu. E o florestal perguntou:
- Cadê o veado?
- Que veado? Respondeu o esperto advogado.
- ....
JOSÉ EDUARDO ANTUNES