Queima o Chico!


Essa não é minha não. É estória de trancoso. Deu vontade contar porque nem todo mundo conhece e é muito engraçada, faz parte da riquíssima cultura popular sertaneja.
Contam que havia no Sertão uma mulher jovem e bonita, muito apaixonada pelo seu marido, um comerciante chamado Chico. Fiel, a esposa vivia para ele e morreria por ele.
Só que o Chico morreu antes.
A viúva, inconsolável, fez juramento perpétuo de vestir-se de preto e mandou fazer uma estátua do marido em madeira de lei, idêntica a ele, em tamanho natural. Ficou uma lindeza. Era ver o Chico.
A viúva mandou que deitassem a estátua do lado direito da cama e dormia toda noite agarrada a ela, beijava os lábios frios, acarinhava as mãos inertes, chorava em seu peito. Os homens mangavam mas no fundo tinham era inveja de ninguém ter por eles tamanho bem-querer. As mulheres suspiravam por testemunhar amor tão bonito que mulher é bicho besta, não escapa uma.

Passou-se o tempo, um dois, três anos, chegou o inverno ao Ceará. Muita chuva, a Natureza feliz, o sertanejo comemorando. Só a viúva continuava triste, não queria fazer nada, não saía nem se distraía. A casa grande ficara aos cuidados da empregada, uma certa Roselena, mulatinha dos seus treze anos, muito prendada e satisfeita da vida.
Apois. Quando foi uma noite alguém bateu à porta. Quando a viúva abriu quase que cai pra trás. Gente, pense num homem bonito. Bonito que só o Cão. Alto, forte, cara de macho, aquele cheiro que nós conhece de longe. Armaria. Muito ligeiro a viúva mandou o visitante entrar (na verdade puxou o homem pelo braço), mandou sentar e foi pedir para a Roselena fazer um café pra visita. A empregada disse "patroa, num vai dar não. Com a chuva a lenha ficou toda molhada, num vai fazer fogo de jeito maneira."
Oh, rapaz. Pra quê. A patroa ficou indignada. Foi lá e veio cá, rodou pela cozinha feito onça denduma jaula e de repente pulou em cima da menina, com as faces em brasa:

"- Roselena, queima o Chico!"

E voltou pra sala, toda se abrindo que nem ata madura, mode distrair o delicioso visitante que nem por um decreto ia dormir no mei da rua debaixo daquela chuva.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 02/08/2015
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