= O Capote =

Nenhum exercício físico um tempão já que eu não fazia.

Peguei minha bike e fui dar umas pedaladas na ciclovia.

Em lá estando, feliz pedalando, o hino do meu Coríntia cantarolando...

Vi umas moças bonitas em bando andando, em suas roupinhas coloridas, coladinhas.

Joviais, saudáveis, sorridentes... Corpos de parar o trânsito. Exuberantes!

E eu só de butuca, zoiando! Eitalelê! Já fui bom nisso - pensei.

Se uma já é colírio. Imagine assim um monte.

Custou-me caro esse "lamber com a testa". O diabinho vem, atenta e a coisa não presta. A concentração, a direção, a noção perdi...

Quando vi, estava batendo na guia. O maior capote, um tombão federal caí.

Lá no chão fiquei esticadão, quase desmaiado. Todo ralado, envergonhado.

Umas três ou quatro das moças vieram correndo, solícitas, gentis, solidárias, me socorrer. Talvez pensando que eu estivesse morrendo.

- Calma, cuidado! O senhor está bem?

Eu com um fiapo de voz, gemendo, disse: - Tô... Sim...

- O senhor quer que chamemos o Resgate?

Eu ficando em pé, com a ajuda delas, agradecendo, entre ais e uis e algum sacrifício, dizendo: - Não precisa. Já me cuido. Moro aqui pertinho, ali logo à frente, depois do parquinho.

Voltei pra casa mancando, a bike empurrando, pensando:

Putz, véio! Que mancada! Que maçada! Que mico!

E se a tia em casa ficar sabendo? Se alguma fofoqueira viu e conta? Como fico?

Mas confesso, nessa história toda o que mais doeu, não foi o capote, o tombo, os ralados, os calombos...

Apesar do hematomas, machucados... Da vergonha toda que passei...

Dos doloridos que ainda tô.

Foi pelas gatinhas ser chamado de "titio" e "vovô".

= Roberto Coradini {bp} [

02//08//2015