O FALSO GAGO

Miguel era gago para aparecer como divertido na roda de amigos, não era gago de verdade, só o fazia perto dos amigos e da família, que acredita que ele tinha ficado gago depois de crescido, já um rapaz, não fora gago na infância. Onofre um amigo seu muito dileto era o único que sabia dessa sua molecagem, não entendia o motivo de Miguel usar desse artifício, mas, respeitava a vontade e maluquice do amigo, muitas vezes até se divertia com isso.

Um belo dia na pequena cidade do interior de Pernambuco, veio morar uma menina linda, de olhos castanhos cor de mel, um sorriso que parecia um anjo caído do céu, Miguel logo vibrou por dentro, como nunca antes por outra moça, foi paixão à primeira vista, estava verdadeiramente de quatro o pobre coitado, mas, a sua falsa gagueira o impedia de abordar a doce criatura, pois se com ela ele não gaguejasse todos saberiam que ele mentira aquele tempo todo. Precisava dar um fim bem dado e elaborado naquela gagueira ou não teria, a menor chance com a menina. Convocou seu dileto amigo Onofre para uma confabulação, carecia da ajuda do amigo para idealizar um plano. Onofre tinha um primo que era médico, não era um bom médico na verdade, mas, tinha diploma e isso lhe parecia o bastante para a empreitada. Conversando com Onofre, perguntou se o primo médico era bom de papo, se era de confiança para guardar um segredo, Onofre confirmou que sim, então, Miguel lhe contou seu plano. Iria fingir que estava fazendo um tratamento para curar a gagueira que não era de nascença, com o tal médico, depois de umas duas semanas ele apareceria curado e o médico obteria mais crédito com o pessoal da cidade, até que era um bom plano.

Dito e feito, o médico que não era bem visto pelos moradores da região, topou de cara, pois sua clientela haveria de aumentar com “cura” da gagueira falsa de Miguel. Durante duas semanas todos na cidade observavam que Miguel ia diminuindo a frequência da gagueira, o incentivavam bastante a continuar o tratamento ele fingindo que só. Só via a menina formosa, razão dos seus ais, de vez em quando na pracinha e só trocavam olhares, nunca se falaram, Onofre é muitas vezes conversava com ela na saída da missa domingueira, até pareciam amigos.

Miguel e Onofre eram rapazes bem feitos de corpo, esguios e fortes, não eram bonitos, por assim dizer, mas, a aparência deles não era para se rejeitar, no conjunto eram dois tipões e bons partidos, seus pais eram comerciantes, de sucesso, naquele lugar.

Com o que Miguel não contava e isso arrasou o seu coração, foi que a menina de nome Maria Eunice, se apaixonasse por Onofre, isso ele não podia sequer imaginar. Onofre por sua vez, acabou confessando que gostava por demais da garota, a coisa ficou feia, quase que a grande amizade de Miguel e Onofre termina, Miguel o xingou de todas as formas, o chamou de traíra e muitas coisas mais, fato era que ninguém manda nas coisas do coração, aconteceu, Onofre não se sentia culpado, apenas apaixonado.
Miguel era amigo demais de Onofre e não poderia trocar sua amizade, por um amor que estava na cara que não seria correspondido, mas sentia um carinho imenso pela moçoila, linda menina ela era. Quem sabe, terminado o falso tratamento, ele não daria mais sorte com outra pequena?

O tempo foi passando, a vida andando devagar e o amor de Maria Eunice e Onofre só ia aumentando, até que passada ilusão, os três conviviam em harmonia, Miguel era engraçado e eles riam muito de suas brincadeiras.  Miguel não era mais “gago”, o tal médico primo até se deu bem, aumentou um pouco mais o número de seus pacientes, mas, Miguel ainda estava sozinho, não podia sair todas as vezes com Onofre e Maria Eunice, pois ficava parecendo uma vela, ao lado deles, isso não era legal, eles precisavam de espaço só para os dois.

Miguel queria voar mais alto, conversou com seus pais e resolveu fazer um curso fora do estado, talvez em São Paulo, viver uma outra vida, respirar outros ares, poderia ser contabilidade, para mais tarde tomar o lugar do pai nos negócios, e assim imaginado foi feito. As despedidas dos amigos duraram festas de quase uma semana, depois ele partiu. Foi para a casa de uma tia, irmã de sua mãe, que o acolheu com doçura, como ele seu filho fosse. Num dia de chuva, habitual em São Paulo, chegou uma visita para sua tia, uma afilhada de outra cidade e era uma linda moça, quando foram apresentados, ele não conseguia falar de tão nervoso, gaguejou tanto que nem conseguiu dizer o próprio nome...é a vida dá muitas voltas, mas, isso é outra hIstória...
 
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2015

 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 17/09/2015
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