Suíte 111

_ Uma suíte master, por favor.

_ Para pernoite, senhor?

_ Sim, sim. Eu pago agora?

_ Não, apenas na saída.

_ O café da manhã está incluso?

_ Não, senhor. Os 88,00 incluem apenas o valor da suíte, mas com um acréscimo de 12,00 podemos incluir café da manhã para dois. O senhor teria interesse?

_ Por favor.

_ Já possui cartão fidelidade?

_ Ainda não, meu bem, é a primeira vez que a gente vem aqui.

_ Pronto! O quarto é o 111, pode dobrar a esquerda lá na frente. Tenham uma boa noite.

_ Obrigado!

Olhei para a Júlia e sorri. Estávamos nervosos, namorávamos desde a adolescência e nunca tínhamos ido a um motel. Depois de cinco anos juntos percebemos que precisávamos reavivar nosso romance, nos permitir fazer coisas diferentes.

Passei as últimas semanas preparando esse dia especial, afinal, não é todo dia que se completa cinco anos de namoro. Reservei um restaurante bastante conceituado na cidade, Camarões, na orla de Ponta Negra, em um dia de lua cheia. Tudo tinha que estar perfeito para àquela noite.

Julia era o amor da minha vida, linda, com os cabelos encaracolados e uma pele negra de dar inveja a qualquer um. Seu sorriso era o que mais me encantava, singelo, que te abraçava só de mostrar os dentes. Paramos no estacionamento e descemos do carro, ela me abraçou por trás.

_ Sabia que eu te amo, meu gordinho.

_ Claro que eu sabia, meu bem.

_ Preparada?

_ Com você, sempre.

O quarto não tinha muito luxo, mas era perfeito para nós.

_ Vou tomar um banho primeiro, vem comigo?

_ Vai indo, chego já.

Se a Julia tinha um defeito, era o vício no celular. Não largava daquele troço por nada, no começo me incomodou muito mas com o tempo acostumei. Mas hoje ela mal tinha tocado nele, seus créditos haviam acabado e, pelo menos nesse dia especial, eu não precisaria dividi-la com o mundo cibernético. Tomei um banho rápido mas ela não veio ao meu encontro, estava na cama perdida em seu celular.

_ Eita, vício desgraçado. – Falei sorrindo – Você vai tomar banho?

_ Vou sim.

Ela deu um pulo da cama e correu para o banheiro. Por mais que eu odiasse aquele vício, olhar o que está acontecendo não era uma má ideia. Saquei meu celular do bolso da calça e procurei a rede. Não encontrei nenhuma com o nome do Motel.

_ Amor, qual o nome da rede?

_ Posto São José.

Criativo. Principalmente para os amantes, vai que sua mulher pega seu celular e tem a rede do Motel Rarus. Droga! Rede fechada.

_ Ju, qual a senha?

_ Sei não, meu bem.

_ Oxe, achei que você não tinha crédito no celular.

_ E eu não tenho.

_ E como tu tava usando 3G, bocó?

_ Mas eu não use--

Silêncio.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 02/10/2015
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