ASSOMBRAÇÃO ALMA PENADA

Por volta de 1930 no tempo das lamparinas, os métodos de sobrevivência foram muito primitivos, e a cultura também. Sem energia elétrica no meio rural, qualquer tipo de luz que surgia em determinado local na escuridão da noite, era motivo de pânico, para os matutos caipiras. Que julgavam ser algo sobrenatural vindo do além, como almas penadas, coisas do outro mundo.
O medo que permeava o ambiente dessa gente desinformada, e em sua maioria analfabeta, se tornou um grande aliado da igreja católica, que aproveitou esse fator consumado “no medo do diabo e o temor a Deus” para evangelizar os matutos sertanejos. Resultando numa geração de medrosos assumidos. Com exceções de alguns corajosos, que se divertiam tirando proveito do medo alheio.
Geralmente as residências dos agregados nas fazendas, eram situadas as margens de córregos e riachos onde o acesso a água era mais acentuado.
Qualquer ruído causado por um animal silvestre durante a noite quando a natureza adormecia, e o silencio era total, se tornava num barulho enorme, e viajava ecoando por léguas distantes, entre as matas ciliares que cobriam as margens dos cursos d’água.

Fidélis esposo de nossa saudosa mestra Maria Guerra, explorava uma jazida calcária para a produção  de cal virgem utilizado na construção de casas, atualmente se diz construção civil. Seu forno de preparação das pedras era localizado a margem do córrego do barreiro.
No processo de dessa indústria artesanal consumia-se muita lenha, o que alias, tinha em abundância. Sendo o ingazeiro o mais preferido, devido ao grande numero de arvores mortas e já secas.
Certo dia um mulato que prestava serviços ao Fidelis, teve um mal súbito e morreu com seu machado na mão, enquanto aparava um ingazeiro enorme a beira do córrego. Foi uma comoção total para aquela gente que avizinhava o local. Desacostumados com a morte o medo do defunto tomou conta de quase todos. Após os tramites funerais e o translado do defunto, ninguém passava pelo local depois do por do sol.
Jacinto Maromba morador há um pouco abaixo do forno, tirando proveito da situação, e querendo se divertir saía de sua residência La pelas tantas horas noite ia até o ingazeiro e chorava nele o olho do seu machado, as pancadas ecoavam em toda a região. Alta noite, horas mortas, ar parado, um silencio profundo e absoluto. Não havia quem não ouvisse as pancadas do machado no ingazeiro. Não tardou o pânico foi total, tomaram de assalto todos os moradores das redondezas.

O assunto era sobre a alma penada do cortador de lenha. Novenas e mais novenas em sufrágio de sua alma, foram rezadas, mas nada adiantava a noite quando todos tentavam dormir La estava Maromba com seu machado, malhando o velho tronco do ingazeiro.
Encomendavam missa à alma do falecido. As batidas do machado desapareciam, o Maromba dava um tempo, quando menos esperavam em alta noite Ia estava ele assombrando novamente com as pancadas no ingazeiro.
Recorreram ao padre da paróquia , solicitando que o mesmo fosse até o local e o benzesse, chegaram até preparar uma montaria para que o pároco os atendesse, mas ele recusou dizendo que benzia de longe mesmo, que teria o mesmo resultado.
Ninguém se atrevia sair de casa e muito menos passar pelo local à noite.
Maromba divertiu por um longo tempo, com essa situação, só desistiu quando se mudou da região. Anos mais tarde confidenciou sua façanha a um dos companheiros medrosos, não morreu na ponta de sua faca porque, foi socorrido por outro amigo que se fazia presente, e acudiu amenizando a fúria do colega.


 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 23/10/2015
Reeditado em 24/10/2018
Código do texto: T5424351
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