PROTEÇÃO ÀS VEZES DESPROTEGE

Certo dia, em um encontro entre irmãos(ãs), sobrinhos(as) e cunhados(as), na casa de minha família, a esposa de um dos meus irmãos, ao avistar algumas galinhas e galos cocoricando e ciscando pelo quintal, fez uma proposição: “que tal fazermos uma galinhada um dia desses?”.

Um dos meus irmãos, dono e cuidador dos galináceos, desprendido, não titubeou em aceitar a proposta, desde que alguém assumisse o compromisso de matar, depenar e preparar o tão apreciado prato.

Após combinarmos a data, foram indicados quais os exemplares que iriam para o sacrifício: o galo grande com problema em um dos pés, a galinha de penagem preta e a galinha ruiva, mais miudinha.

Devidamente determinadas as vítimas, passou-se a confabular sobre quem se encarregaria de sacrificar e limpar, quem cozinharia, o que acompanharia o prato etc.

Por motivo de proteção, uma vez que estavam apanhando dos demais, duas galinhas e um galo foram apartados e colocados sob a proteção de um cercadinho.

Na véspera do dia marcado, ao contrário do que se esperava, ao invés de o meu irmão cumprir com a sua missão enquanto era dia, fê-lo ao cair da noite, quando as galinhas e galos já se encontravam empoleirados em galhos de árvores diversas. Então, ao ver as três vítimas confinadas, suspirou aliviado: “oh, que bom, os três já estão aqui separadinhos”. Pegou um a um, colocou-os em um saco e os levou para o abate.

Na manhã seguinte, quando o outro irmão foi ao galinheiro para servir a alimentação matinal, viu que os três exemplares protegidos não estavam mais lá.

Passado o estranhamento inicial, logo percebeu o que provavelmente havia acontecido: “pegaram as galinhas e galo errados”. Ligou em vão para o outro irmão, que confirmou o equívoco mortal.

Na hora do banquete, o assunto predominante foi a funesta sina dos exemplares sob tão frágil e displicente tutela.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 26/10/2015
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