Cartórios

A cidade estava pacata como sempre, embora sua altitude de 900 metros e a proximidade com a serra da Mantiqueira, o ar estava quente, e o cotidiano forçava a criação de alguma coisa que motivasse o papo de bar no fim do dia, preferivelmente com risos.

Nisso ele era mestre, entre o trabalho repetitivo de tabelião e os causos, sempre preferiu os causos.

Mestre das pegadinhas, mesmo assim era querido, até porque tudo que fazia tinha somente o fim de divertir, aos outros e a ele próprio, até o próprio “gozado”, se divertia.

Estou falando do amigo Jarbas, bonachão, espirituoso e conhecedor das almas e cachaças, com as quais mantinha o mais fiel casamento.

Naquela tarde, monotona,chegou no seu cartório um homem estranho à cidade,querendo protestar um titulo de cobrança.

Era um individuo grande, desses grandes em todas as direções de feições grosseiras, sem sorrisos ou rodeios.

-Aqui é o cartório? Pois vim protestar um titulo de um vigarista daqui...

Jarbas, com sua calma e paciência deixou que o visitante apresentasse sua historia e somente depois, é que alertou o estranho que infelizmente estava no cartório errado.

- Meu amigo, o meu cartório é só para lavrar escrituras, o de títulos e protestos fica logo ali...

E foi indicando como chegar, enquanto se dirigia para a porta.

Como todo bom mineiro de cidade pequena, se desculpou por não poder ir até o local desejado, mas indicou o caminho, sem erros.

Quando o estranho ia saindo, Jarbas, pediu mais um minuto da sua atenção e informou uma “peculiaridade” do seu colega, do cartório de títulos...

-Amigo, recomendo que você chegando lá se dirija ao tabelião em tom de voz bem alto, porque o rapaz é quase totalmente surdo...ele se chama João Mario.

Não deu outra , o homem adentrou o cartório de titulos aos berros, o que causou um espanto muito grande no coitado do João Mario, homem extremamente bem educado, de corpo miúdo e voz pequena.

Quanto mais o homem gritava o João Mario, ruborizado entendia menos, fato que demorou uns minutos a ser esclarecido.

Até que por fim o homem explicou de onde estava vindo...

-Há , quer dizer então que o Senhor passou primeiro pelo cartório do Jarbas, então está explicado e as desculpas aceitas.

Não é necessário dizer, que naquela tarde noite, os três estavam às gargalhadas “tomando uma”, no bar do Gilberto.

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 28/06/2007
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