Cineminha do interior...

Valente, ele era valente, não havia nada nesse mundo que pudesse meter medo diante daquela valentia toda.

Brigão, ele era brigão, não perdia uma aglomeração...mesmo porque, dizia que onde se reúnem mais de três homens, só pode dar briga e na pior hipótese, uma discussão, dai a encrenca está formada .

Nem forte era , também não tinha dotes nem técnicas de luta, resultado, brigava e apanhava , sempre.

Adorava filmes de Bang-Bang, sabia de cor e salteado todos os nomes dos moçinhos e bandidos dos filmes estilo Spagetti Western..., Ringo, Django, Sartana, e vai por ai a fora.

Para assistir a todos os filmes sem pagar, foi trabalhar no único cinema da cidade.

Pintor de paredes de dia e operador de máquinas de noite.

Era operador técnico, ou da “traquitana”, como gostava de chamar o velho projetor do “Cine Theatro Collored “.

Nunca nem de perto imaginei de onde tiraram esse nome pomposo, do cineminha acanhado, que tinha dois andares internos, se tanto uns 200 lugares, no total.

Na parte de baixo, com cadeiras de madeira, da marca “Cimo”; nunca me esqueci desta marca, também, nos longos intervalos de emendas das fitas, não havia mais nada pra ler, que não a marca do móvel estampado no encosto da cadeira da frente.

Em cima, no “Pullman”, eram poltronas estofadas.

Segundo os funcionários do Cine, era um trabalho danado limpar todas elas nas segundas-feiras, até porque o espaço era ocupado pelos casais de namorados da sessão das oito, da noite do domingo, e ali sempre ficavam os resquícios ou lembranças dos “amassos” do dia anterior...

Dizem que vez por outra, na segunda apareciam algumas garotas mais espevitadas procurando por suas respectivas calçinhas.

Na sessão ,dia sim outro também, corriam soltos os tiros dos Colt 45 dos Giulianno Gemma, Antony Steffen, e Kirks Douglas da vida.

Era só Bang Bang, e a saída da sessão, na cabeça de alguns os temas musicais insistiam a continuar, e o clima do filme idem.

A integração entre filme e assistente era tanta que demorava a cair a ficha na cabeça da moçada, que o filme havia terminado, para eles a continuação era na rua, nos arredores do cinema, já que invariavelmente várias brigas sem razão ocorriam, simplesmente pelo clima reinante.

Houve até uma vez em que um sujeito de chapéu preto, sacou de sua arma durante a sessão e atirou contra a tela, um grande pano branco, preso pelas pontas, para acertar o bandido, que sorrateiramente emboscava o moçinho.

A policia local, tão acostumada com a rotina, só dava as caras na praça uma hora após o termino da sessão, nesse ponto os ânimos já haviam se acalmado e o ambiente só se ocupava dos comentários de quem bateu em quem.

Mas falávamos do Jesu, isso mesmo, sem o “s” final, que tinha por alcunha Jesu Perdão...não sei explicar o segundo nome.

Findo o filme, ele apressava sua saída para não perder a tal briga diária...

Outro dia depois de apanhar muito, ainda se recuperando na delegacia, explicou ao delegado.

-Seu delegado agora eu estou brigando bem, brigo meia hora e não repito nem um tombo...

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 29/06/2007
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