Matar a cobra e mostrar o pau




   Seu Argemiro é um homem sábio. Vivido. Quem ouve seus causos com atenção, sempre aprende alguma coisa. Certo dia, aqui no meu salão, Nestor da Zefa, gente boa, mas daqueles que come salame e arrota presunto disse com ar de valente: - Eu mato a cobra e mostro o pau!
   Seu Argemiro, calmamente, falou com a sabedoria que lhe é peculiar, mas com dupla interpretação:
   - Matar a cobra: faço isso não, Nestor! Afinal a cobra não é responsável pelos desatinos da humanidade. Melhor deixá-la enrodilhada e caçando sapo. Sei bem que é uma maneira de dizer. Metáfora! Minha meta é viver em harmonia.
   Tem gente que corre da cobra. Eu a deixo lá em seu habitat (Seu Argemiro costuma falar difícil). Alguns até a seguram com mãos firmes. Outros matam. Seres humanos, Nestor! Nada que é humano me é estranho, já dizia o filósofo! As cobras são criaturas dóceis. Só não invadir seus espaços. Tem função na cadeia alimentar e no equilíbrio ecológico. O pau até que mostro: é um belo mastro, quer ver? Está preservado, bem cuidado. Sou zeloso com as coisas da natureza.
    Todos rimos. Nestor entendeu bulhufas.


Da série Os Causos de Seu Argemiro.