Sou péssimo vendedor, mas já vendi verdura, sandálias de dedo e até sabão. Mas a minha experiência mais triste foi  mesmo vendendo sabão.
Eu comprava o produto numa fábrica lá no Km18, aqui em Osasco, e com a mercadoria numa sacola eu percorria as ruas dos bairros de Osasco para revendê-la. No final do dia estava com as mãos feridas, pois manejava o sabão e depois pegava na alça da sacola, ficando a mercê da soda cáustica que impregnava o tecido da alça.
Certo dia achei ter encontrado a galinha dos ovos de ouro. Uma senhora comprou 10 pedras e encomendou outras 10 pedras para a semana seguinte. O preço a convenceu que ficaria minha freguesa, pois usava muito sabão em razão de lavar roupa para fora, como se diz costumeiramente.

Fiquei muito  contente.

Na semana seguinte,  ansioso para entregar o sabão e faturar algum dinheiro, fui direto para o bairro da nova freguesa. Quando a mulher me viu no portão, em vez da simpatia da primeira compra,  ela apareceu com um pedaço de pau numa das mãos, me xingando de nomes impublicáveis e exibindo as mãos em carne viva. O sabão que eu vendia, descobri, tinha um alto teor de soda cáustica e ela ficou com as mãos tão danificadas que estava impedida de trabalhar o pão de cada dia.

Saí dalí correndo para não apanhar, muito embora tivesse vontade de me desculpar.  Esse incidente me fez encerrar a minha curta carreira de vendedor de sabão. É bem verdade que o produto não ajudava, mas não é menos verdade que o vendedor não tinha a menor vocação.