Falta de Assunto

Contava minha avó, que lá pelos idos de 1930, no Campo Grande, perto da Capela de São Benedito onde residiam em seu sítio, que num dia de intensa chuva apareceu um caipira de carroça e pediu ao meu avô que desse abrigo durante aquele temporal. Como é de natureza do matuto, meu avô pediu que adentrasse na tapera para se abrigar.

Enquanto chovia torrencialmente, minha avó ofereceu-lhe café com biscoito de polvilho. Mas aquele homem estava um tanto quanto constrangido diante dos olhares curiosos das crianças. Eram treze pares de olhos que não davam um segundo de tranquilidade ao incomodado homem.

Ele olhava para baixo, para os lados, para cima e nada dos pequenos darem-lhe um segundo de alivio, pois ele estava totalmente desconsertado.

Então parecendo ter encontrado uma saída, para quebrar o gelo daquela situação em que se encontrava, olhou pela janela e disse:

- “O tempo tá de chuuva, tá serenando groosso”!

Mas, aquela tortura não terminava, não obteve resposta alguma de ninguém, os olhares continuavam fixos no pobre homem que se tornara a atração daquela tarde.

Ai, o caboclo olhou outra vez pela janela, que pelo que parecia, era sua única opção de fuga daquela situação, esticou o braço e deu um pedaço de biscoito de polvilho para o seu cavalo que estava próximo da tal janela, voltou-se para dentro e disse:

- “Dei biscoito de porvio pro cavalo, o cavalo pururucô tudu”!

Mas de nada adiantou, o pobre coitado só se viu livre mesmo, quando a chuva acalmou um pouco. Ele agradeceu e foi embora embaixo de chuva mesmo.

Pablo Vera Cruz
Enviado por Pablo Vera Cruz em 03/03/2016
Reeditado em 19/03/2016
Código do texto: T5562112
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