O Advogado

Numa cidade pacata do interior morava um senhor, na verdade uma figura folclórica, dessas raridades que não é qualquer cidade pequena que existe. Eu era novata, tinha um pequeno comércio, um empório de secos e molhados, muito comum naquele tempo. Tanto vendia o pão nosso de cada dia, como a bebida nossa de cada dia, levada ou bebida no balcão, em especial as alcoólicas.

Ali, era um ponto de encontro de trabalhadores ao final da tarde, como : boias frias , sitiantes, tocadores de viola(foi assim que passei à apreciar a música raiz) velhos contadores de causos e os chamados “vagabundos farrapos humanos”que vinham filar uma dose e muitas vezes implorar um gole de uma “branquinha”.Uns ainda conseguia ir chutando para casa, outros davam trabalho, caia na calçada, ali ficava, até achar um compadecido que o levantasse e induzisse ao seu recanto, sabe lá, aquele recanto de rua, pois era ali que morava.

Entre tantos causos contados, um me chamou atenção, bem antes de conhecê-lo.O Sr Luís Alberto, que de tanto ouvir falar nele pelos os frequentadores assíduos do meu estabelecimento. Foi assim que chegou aquela história, dia a dia como capítulos de novela aos meus ouvidos aguçados a cada vez que servia um trago e debruçava sobre o balcão e acompanhava a conversa

Assim cada um deles contava um pedaço da história e outro confirmava dando veracidade ao causo, que o senhor Luís Alberto, veio de uma família tradicional no ramo de fazenda de gado no oeste paulista, era o caçula de cinco irmãos, logo que terminou os estudos secundário, foi enviado para universidade da capital e de lá só saiu formado em advocacia.

Depois de formado, retornou para fazenda e pediu que o pai lhe abrisse um escritório.. O pai rejeitou a ideia, disse que o queria exclusivamente para advogar os seus bens, cuidar do interesse da fazenda, ele não aceitou...

Começou a se meter com farras, bebidas, mulheres meretrizes, como a mesada que o pai ainda lhe dava. Inconformado, o seu genitor cansado de brigas, chamar a sua atenção, vendo que nada resolvia, o chamou para uma conversa séria e deu o veredicto final:

__De hoje em diante, você vai trabalhar para sustentar seus vícios e suas mulheres. Vou lhe montar um escritório e este, vai ser sua herança e ponto final, esqueça de uma vez por toda que você teve uma família.

Assim o pai fez. Montou um escritório de advocacia no centro da cidade, ele prosperou n por um bom tempo, era o advogado conceituado, querido por todos, até tinha fugido aparentemente dos seus vícios, a bebida e mulheres. Conheceu uma jovem decente, em menos de um ano, namorou, casou e desse casamento teve duas filhas. Com o passar do tempo, bebendo ora aqui, ora ali socialmente, teve uma recaída no vício do álcool, razão pela qual não combinava nada com sua carreira, nem a família aceitava.

Daí, for ficando desacreditado, começou a perder clientela, destruiu a sua família, a mulher foi embora com outro e as duas filhas ainda de menor.

Luís Alberto caiu em desgraça, e quanto mais caía, mais clientes perdia. Vendeu tudo o que tinha conseguido, inclusive o escritório, para poder se manter, mas foi se entregando de corpo e alma a bebida, as meretrizes. Sem perceber, já estava na dura vida da sarjeta, um mendigo, um farrapo humano, um ébrio. Nas poucas horas que estava sóbrio, desfilava com a única coisa que lhe sobrara, uma pasta de couro surrada, de paletó e chapéu amassado e rasgado falando alto

_ Eu sou o Luís Alberto, o advogado!

E o povo caçoava:

__ Lá vai o Luísinho com sua malinha e sua lancheira para o jardim da infância.

Dora Duarte
Enviado por Dora Duarte em 03/03/2016
Código do texto: T5562256
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