A OUSADIA DE UM PIOLHO


Vez e outra eu puxo a gaveta da mente, e mergulho no passado. Bem no fundo. Deparando-me com os velhos acontecimentos que marcaram nossa historia. Fatos pitorescos, que, se ocorridos atualmente, nem seriam percebidos diante da tamanha imoralidade que habitualmente vem acontecendo.
Nos anos sessenta do século passado, tínhamos aqui no Engenho, um sistema de segurança, composto por um delegado um cabo e dois soldados. Um contingente rigoroso que impunha respeito e mantinha a ordem. Saudosa época que se podia andar despreocupados carregar grandes valores em espécie sem nenhum risco.
O carro forte dos fazendeiros na época, para gerir e manter a sustentabilidade de seus negócios era a engorda de suínos, ou seja, o tradicional capado. Efetuavam-se grades vendas da produção mentiam o dinheiro numa capanga tecida de algodão e viajavam despreocupados, a cavalo ou mesmo a pé por longas distancias sem nenhum risco.
Com meus nove ou dez anos de idade fui portador levando significativos valores à Bom Despacho, em capanga de algodão, para que meu avô que La residia os depositasse para meu pai ou meus tios. Isso no tempo da jardineira, uma peruazinha que fazia o trajeto de Martinho Campos a Bom Despacho, empenhocada de gente até em cima no seu bagageiro, apelidado de poleiro. Havia sim alguns fatos desagradáveis, sempre houve, mas havia uma punição severa, e o pessoal respeitava. Assim também como na conduta social havia  acontecimentos marcantes.
Certa ocasião um fato atribuído como sobrenatural começou a ocorrer na comunidade do Engenho, tanto na área urbana como na rural. Diziam as malas, que se julgavam entendidos no assunto, que seria o espírito de um tarado, ou seja, uma alma penada, que em altas horas em noites chuvosas visitava os varais de roupas postas a secar. Mastigava, pisoteava, rasgava, fazia os diabos nas roupas intimas das mulheres, e das mocinhas, dando preferências aquelas usadas pelas mulheres mais lindas da comunidade.
Foi um verdadeiro terror. Muitas vezes roupas de moradoras do centro do povoado, que eram lavadas nas áreas rurais e deixadas por La para secar, o tarado as capturavam e após satisfazer sua tara às colocavam mascadas, amassadas, e sujas de esperma. Às portas de suas casas. No dia seguinte era um alvoroço total, todo mundo apavorado.
Por um longo período o mistério aterrorizou a população. Passava-se um tempo quando todos imaginavam que o espírito tinha encontrado o perdão e partido para o além, e as mulheres estavam livres do pânico e da perda de tantas peças intimas, que nenhuma tivera a coragem de usá-las novamente, ele atacava de novo.
Isso até o dia que um casal de jovens, recém casados, ao chegar a sua residência encontrou um elemento conhecido como Zé Piolho dentro de sua cozinha. Negando-se a dizer qual sua verdadeira intenção, ele permaneceu preso. O delegado cujo apelido era Ziu, um homem rigoroso que impunha respeito e era muito temido por todos os infratores que caíam nas suas malhas. Por mais que o delegado se esforçou, não conseguiu arrancar nada do piolho. Mas muito astucioso foi até sua casa, colocou dois mosquitos dentro de um vidro e voltou à delegacia, e os colocando diante do meliante o inquiriu:
--Olha aqui seu piolho diga logo o que esta dentro deste vidro! -- Gaguejado ele exclamou:
-- Éeeeeeeee´doooois musquiiitos!
--Dois mosquitos não seu besta -, isso são dois capetas já visse. São meus dois investigadores!
-- Vou soltá-los eles vão andar por ai e daqui a pouco me contam tudo que você tem praticado aqui, e em todos os lugares onde andou-, e eu vou te cortar na borracha!
-- Solta os bicho não doutor ieu Conto tudo!
--Então desembucha logo!
--Ieu tava era caçando roupa de mulher mode ieu cheirar!

-- Então é você o rasgador de roupas esse tempo todo?
--Ieu memo mais ieu juro pur tudo que santo nunca mais faço isso!






 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 21/03/2016
Reeditado em 21/03/2016
Código do texto: T5580482
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