Escola Nova Rancho da Pitanga

O velho Neco continuava com seus causos, suas histórias que parecia verdade, ele jurava que era, mas nós, com um pouquinho de erudição, reconheceríamos prontamente que nestes causos, continham diversos aspetos literários, os quais como que flutuavam por toda parte, a fantasia, o ficcional, e conotativo, a verosimilhança, o prosopopeia, eram logo percebidos. O velho Neco, ria muito, quando proseava sobre estas histórias. Muitas vezes estava em toda parte, outras em lugar nenhum.

Ele disse que certa vez, O Bento da Pitanga, proprietário do Rancho da Pitanga, ficou sabendo que havia chegado na cidade uma nova professora, muito bonita, toda elegante, mais parecia uma artista de televisão, porém, ela tinha um problema, que era explicado com uma palavra difícil de entender, IDIOSSINCRASIA, ela não tinha facilidade de enxergar um palmo além do nariz, e para uma profissão tão linda, ela realmente deveria abrir mais a cachola, e ser um pouco mais humilde, pois a humildade é que faz alguém ser grande, e não a petulância acadêmica.

Era como se ela usasse uma viseira destas que as mulas do velho Bento usava, para não se desviar do trecho, eita mula teimosa! A professora, a senhora Jeza, tinha por costume não levar desaforo para casa, ela sempre tinha que ter a última palavra.

A professora Jeza, tratava seus alunos com rudeza, ou com casca e tudo, não tinha uma palavra amiga, não via nada de bom, nada, apenas via numa única direção, é justamente como o Bento da Pitanga dizia, parece que ela usa a viseira da Acadêmica, elegendo um scancinismo a lá Port Real, um rigor míope, que vela os melhores caminhos, usando um tapume, como a mula mais teimosa do Bento, inclusive esta mula recebeu este nome de Acadêmica, pelo fato de que entre todas as demais mulas, só ela não se misturava com as demais, nem na hora da comida.

jeza, a professorinha bonita, também se sentia melhor que os demais professores da escola, não se misturava com os demais, não gostava de que ser questionada em algo que ela mesma havia planejado, caso alguém se atrevesse, seria atropelado implacavelmente.

Não que o Bento da Pitanga não reconhecia os estudos como sendo importante, não, ele sempre valorizava os estudos, embora ele mesmo não teve a oportunidade de estudar de modo formal nas escolas, era culto como auto didata, lia de tudo, sabia muita coisa.

O que ele não gostava era de que professores, por ter um pouquinho a mais de conhecimento em determinada área, se assoberbam-se sobre os alunos, como que arvorando-se como donos do conhecimento, que não é propriedade particular de ninguém, é de todos, no mais pleno sentido da palavra. Daí ele fazer a comparação com a Acadêmica, sua mula mais bonita, porém mais teimosa.

Para provocar a sua mente - caro leitor- fica clara a dicotomia existente entre o saber popular sobejo, e o saber literário, cientifico, e - cá para nós - , muitas vezes ante-cientifico, pois anula a verdadeira ciência! Basta lembrarmos do exemplo do formato da Terra!

Essa história de professor que tem um rei na barriga, não é coisa nova, dizia o Bento da Pitanga, pois desde muito tempo havia alguns mestres que imaginavam que determinados conceitos teóricos, meras teorias, disfarçadas de fatos consumados, eram a mais pura das verdades, quando mais adiante foram desmascarados.

A professora continuava agindo com viseira, não aceitava interferência, que não fosse o que ela imaginava, em tempos passados houve quem defendia esta teoria de que a Terra fosse plana e a professora por não se atualisar como é próprio desta profissão de educador, embora caro leitor, quero deixar algo para você pensar um pouco:

A escola como a conhecemos não foi criada para dar formação intelectual, erudição, e conhecimento, antes foi criada para "formar", ou seja colocar as massas numa "fôrma" no sentido impedir as massas de obter o néctar do conhecimento, destinado aos filhos da elite. O velho Neco sabia disso, e fez de tudo para alertar o jovem felizberto, para ele não seguir neste viés excludente, onde o ensino se abre apenas aos que são "bem nascidos", parece que a professora jeza, ainda não havia percebido como ela estava sendo instrumento da classe dominante, para velar dos alunos o ouro do saber!

Seguindo na toada da teoria de terrapalnistas, No passado estes diziam que a Terra era plana, e que os navegantes cairiam para fora dela, em viagens no alto mar.

Em um certo dia, numa aula de geografia, o Felizberto da Vinci, perguntou para ela sobre o formato da Terra, ela toda cheia de orgulho e prepotência, disse que a teoria anterior devia ser aceita, pelo menos em sua aula deveria ser assim, não aceitaria nenhum questionamento. Não era para mudar de assunto, pois estavam falando sobre relevos, montanhas, planaltos, planícies, serrados, e pampas, e não era para preocupar-se com outras temáticas.

Ela não conseguia aprender nada com os alunos, o orgulho era forte demais para se quer elogiar quando estes faziam comentários profícuos na sala de aula, dava dó desta pobre professora, que embora muito bonita por fora não conseguia ser bonita no seu íntimo.

O Felizberto, como era respeitoso, e não queria causar um mal estar na sala de aula, nem na comunidade, achou melhor ir perguntar ao Bento da Pitanga seu amigo, sobre o que devia fazer, este sábio ancião, sugeriu começar por um caminho longo que o levaria a fortuna, teria que estudar muito, e deveria comer os livros, ser como que um rato de biblioteca, ele deu algumas sugestões de leitura, foi o que o jovem começou a fazer, foi pesquisar mais o assunto, mesmo sendo tolido pela Jeza, estava lendo tudo o que via pela frente, descobrindo coisas incríveis, cada hora que estava lá, na sua segunda casa, a biblioteca.

A biblioteca da cidade, passou a ser sua, quando não estava na escola, estava lá, lendo lendo lendo, temas, desde cosmologia, astronomia de Edwin Huble até a literatura universal, desde Alexander M. P. Haley, Edgar Allan Poe, Machado de Assis, Ernest Hemingway, Mario Simmel, Jean Joyce, de linguistica Ferdinand de Suassure, Noan Choski, a teoria da evoluçao e a seleção natural desde Charles Darwin, até Richard Dawkins, e tanbém o bioquimico Michael Behe.

No entanto lia também sobre a Divina Comedia, de Dante Aliguieri; Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões; Ilíada, de Homero, Hamlet de William Shakespeare; Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, Guerra y Paz, de Leon Tostói, Crime y Castigo de Fiódor Dostoiévski, Madame Bovary, de Gustave Flaubert, Fausto, de Johann W. Von Goethe, O Proceso, de Franz Kafka, Metamorfoses, de Ovídeo, Os miseráveis, de Victor Hugo, Adeus ás Armas, de Ernest Hemingway, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, Historias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe, A Comédia Humana, de Honoré de Balzac, Grandes Esperanças de Charles Dickens, As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, 1984, de George Orwell, Robinson Crusoé, de Daniel Defo.

O dono do Rancho elogiou muito o jovem por ter feito esforços em ler o que ele mesmo havia lido, ler tudo isso, mostrava muita determinação, vontade de ser como o Bento da Pitanga, que mesmo não tendo ido a escola formal, aprendeu a ler bem, e lia mutio, todas estas leituras que havia recomendado, ele mesmo havia lido, e estudado sozinho no seu Rancho da Pitanga.

Achou nos escritos de Galileu Galilei, de Copérnico, e outros autores, que postularam sobre este assunto, cada dia ficava mais convencido de que estava descobrindo um tesouro de conhecimento, que só pertence aos bons, não pertence aos altivos. O Bento da Pitanga, sabia muita coisa, de orelha, por prestar atenção nas conversas dos outros, daí ia na biblioteca e perguntava para a funcionária, como ele podia localizar determinado livro, algumas vezes ele sabia pelo menos o nome do autor, outras vezes a moça ajudava-o a encontrar o que queria.

“Bento, Bento”, vinha correndo o Felizberto, e quase sem fôlego, chegou ao rancho do Bento da Pitanga, cansado suado, e quase sem fôlego, foi querendo falar, o Bento, com gesto paternal pôs a mão no ombro do menino, acalmou-o, e disse: “respire fundo, calma, tome um gole de água”, que ele foi pegar para o jovem, de uma botija grande, - caro leitor -, era botija de barro, onde a água era colocada toda manhã, e mantida em local fresco e arejado, a água ficava tão fresquinha e gostosa, que dava vontade de beber, mesmo sem sede. Já saciado e mais tranquilo, começou a contar ao Bento da Pitanga, o ocorrido da véspera.

O Bento da Pitanga, com toda calma do mundo, sentou-se numa rede no alpendre na frente do rancho, e disse para o jovem: “Eu quando ainda tinha vitalidade, fiz algumas leituras, sobre os estudos de Galileu Galilei, sobre a Terra não ser o centro do Universo, e sim que nossa galáxia, a Via-Láctea, que fazia parte de um aglomerado de galáxias”.

Falou de muitas coisas que havia estudado, e recomendava que o menino também lesse sobre estes temas, o jovem ficava vidrado em cada palavra do Bento da Pitanga.

Na biblioteca, Felizberto, começou a ler, e quanto mais devorava as páginas, mais tinha vontade de ler, era algo tremendamente incrível, pegou um gosto tão grande pela leitura, que, houve um dia, que ficou tão quieto no funda da biblioteca, que a moça, fechou a porta e foi embora, e ele ficou prezo, até o amanhecer do dia seguinte.

Foi nesta noite, que ele lendo, encontrou na Biblioteca um livro, que citava um argumento muito forte em relação ao formato da Terra, inclusive citando um dos trechos das Escrituras, que dizia: “que era Jó capitulo 26 versículo 7, e o livro de Isaíaas 40:22, “sobre o formato da Terra”, fez anotações, no seu caderno, para perguntar para o Bento da Pitanga, sobre estes assuntos.

No Rancho da Pitanga, já passava das 16 horas, quando tomaram um chá, e riram muito pois falaram que eram ingleses, e que aquela hora era a hora do chá,... O jovem perguntou sobre seus apontamentos, e o ancião disse que aquele livro, foi doado para a biblioteca, por um conhecido dele, disse: “um velhinho que doou para a biblioteca”, Uma qualidade boa do Velho Neco, é que ele era muito discreto, quando ele ajudava alguém, não gostava de divulgar isso, pois dizia, “o bem que você fizer por alguém, engula e não regurgite jamais!

Enquanto a conversa se estendia, o Bento da Pitanga começou a sentir algumas dores no peito, pediu uma caneta e começou a rabiscar uma breve anotação, que dizia:

“Sei que não ficarei muito mais tempo aqui neste rancho, não tenho herdeiros, nem esposa, nem ninguém, de modo que por ocasião de minha partida, decido em vida, agora, doar este rancho, bem como meus recursos financeiros, e tudo o que me pertence, passo para o jovem Felisberto da Vinci, ele poderá fazer a escritura em seu nome, e cuidar deste da melhor maneira possível, estou escrevendo este breve testamento, para não sobrar qualquer dúvida em relação a minha expressa vontade enquanto estou aqui. Por ser verdade firmo o presente: Manoel Holístico, Rancho da Pitanga, 15 de abril de 1977”.

Ele dobrou o papel, entregou na mão do menino, e pediu para ele ir pegar um pouco de água, tomou, depois disso, disse: “se eu passar mal, e não resistir, por favor pegue este papel que te dei, e vá procurar um amigo que tenho no cartório da cidade, você deve procurar o dono do cartório de registros, o senhor Vivaldino Cortezan, ele, irá te orientar em tudo”.

O jovem, se despediu do Bento da Pitanga, e foi para sua casa preocupado e pensativo, já não estava eufórico, como havia chegado.

O dia já amanhecia quando veio a notícia, o Bento da Pitanga, havia falecido em sua casa, devido um ataque cardíaco fulminante, todos os que o conheciam ficaram muito triste, desde o senhor prefeito, até os mais simples da vila, vieram para acompanhar o enterro, o Felizberto mal podia acreditar que na véspera havia passado alguns dos melhores momentos de sua vida, ao lado de um grande amigo, professor de vida, um que sabia como ninguém, respeitar o outro, tentava sempre olhar o modo do interlocutor, para depois ajudá-lo a chegar a boas conclusões, ele nunca tratava ninguém com a rudeza de que sabia mais, de que era superior, ou coisas deste tipo, não.

Quando em vida o Bento da Pitanga sempre citava as palavras de George Bernard Shaw (1856-1950) quando disse: “os seres humanos nascem ignorantes, mas são necessários anos de escolaridade para torná-los estúpidos”.

Passado alguns dias, o jovem lembrou das instruções do falecido Bento da Pitanga, e o que deveria fazer, pegou o papel e foi procurar o dono do cartório o senhor Vivaldino para saber mais a respeito do significado daquele documento.

Meu jovem, disse o senhor Cortezan, para o Felizberto, “ele simplesmente, deu este rancho para você, agora você é o único dono, e vou cuidar para que seja feita a escritura no seu nome, o Neco já havia pago os trâmites, você pode ficar tranquilo que vou cuidar de tudo para o senhor, não se preocupe. O Bento da Pitanga, me pediu para sempre te apoiar e tudo que precisar estarei pronto para servir, eu prometi para ele fazer isso.”

Tudo que tiver no rancho, as cinco mulas, os três cavalos manga largas, o Jipe, e as duas contas bancárias, tudo agora pertenceria ao jovem, que mal tinha acabado de completar 18 anos de idade.

Naquela época, em plena ditadura militar, o jovem teve uma brilhante ideia, transformar o rancho em uma grande escola, cujo objetivo seria, promover uma pedagogia, calcada nos princípios de Paulo Freire (1921-1997); William James Durant (1885-1981). Fundador de A Escola Nova, como a ditadura não estva muito preocupada com cidade pequena aparentemente insignificante, não molestaram nem atrapalharam seus planos.

O que foi bom para o jovem Felizberto, é que ele de tanto ir na biblioteca acabou sendo recompensado, conheceu uma garota, chamada Virginia, ela era a coisa mais linda do mundo, todos a admirava, era de tirar o fôlego de qualquer um, a beleza, a educação, a meiguice, a suavidade da voz, a inteligência dela era algo que não ficava despercebida, e como o jovem, comia livros o tempo todo.

Além disso era ela que se interessou pelo rapaz, e el ficava pensando, será que esta menina bate bem da cabeça? Ele caso você leitor não saiba, era um jovem tímido, nunca havia namorado antes, sua vida era só estudar, nesta altura, já havia tido a formatura, e foi neste dia, da formatura, que ao dançar com a bela Virginia Lee Way, que começou um namoro, que levaria não só ao casamento, mas a algo mais, eles construiriam a escola juntos, pois a menina, era filha de grandes professores, que lecionavam na Inglaterra, e visitavam o Brasil de modo esporádico, para ver sua filhinha, que morava com a avó materna.

O pai doutor em educação, Antropologia, e Sociologia livre docente, chamava-se John Maker Strangford Way, ele havia nascido no Brasil, porém foi criado em Londres, a mãe, professora, doutora em letras, e filologia, senhora Juana Lee Way, de modo que para a menina, era natural transitar na área da educação, mas fazer uma escola, com foco no aluno, e não na elite, não seria empresa fácil, para dois jovens que por mais que haviam lido muito, não tinham ainda tido uma tarefa tão grande, nem experiência para lograr isso! Ainda bem que sabiam de onde conseguir boa orientação.

A primeira coisa que eles fizeram foi uma grande pesquisa em diversas cidades, conversando com diversos professores e anotando tudo o quanto podiam anotar, entrevistaram mais de três mil mestres, doutores, professores de todas as disciplinas, reitores de universidade federais e estaduais de em algumas capitais, como Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia, Cuiabá, Rio de Janeiro, e algumas cidades do interior, levaram quase dois anos de pesquisas, para colher muitas sugestões, e fizeram muitas anotações de sugestões, sobre a temática de regência em sala de aula, dialética entre professor aluno, objetivos maiores de uma instituição, avaliação com foco no progresso dos educandos, e fizeram disso um catalogo dos mestres, remeteram estes dados para a Inglaterra.

Em Londres, ao receberem a correspondência do correio, com os dados, os pais da menina Virginia, ficaram muito felizes de saber que ela estava bem, e que tudo estava indo bem em sua vida!, pois embora ainda jovem, já estava nos caminhos da educação, o professor John e sua esposa, a professora Juana, analisaram os assuntos e fizeram um devolutivo, com as anotações e sugestões para a Escola Nova, pediram também uma opinião sobre o trabalho de Paulo Freire, e do professor, Wil Durant, os quais seriam os homenageados desta escola, seriam como espelhos da Escola Nova, e a inauguração seria em forma de festa de casamento.

Como a ditadura estava filtrando as correspondências, eles trataram de combinar usar certos códigos, de modo que o assunto seria chamado de construção de uma casa nova.

Os pais combinaram e aceitaram estes termos. E como John Maker Way era muito conhecido por muitos oficiais de alto escalão do exército da Inglaterra, e do Brasil também, as correspondências tinha um trâmite mais facilitado.

O mundo da muitas voltas, a Escola Nova foi construída, o dia da inauguração seria também o dia do casamento dos jovens, caro leitor tenho que dizer que lá na Escola Nova do Rancho da Pitanga, só davam aulas professor, comprometido com o educando! Inclusive trabalhavam lá os melhores professores, eles recebiam cinco vezes mais que os demais professores, os salários eram pagos em dia, não tinha professor que não queria trabalhar lá, só que para isso, os que eram aprovados, teriam que se comprometer em seguir a risca os objetivos e programas educativos da Escola Nova Rancho da Pitanga.

O diretor já estava em sua sala de trabalho resolvendo temas do dia, com alguns dos professores, para fizeram um grande evento, porém este deveria ser revestido de muitos disfarces para não perceberem os reais objetivos, principalmente a polícia e os militares, para todos os efeitos era apenas um casamento, e nada mais.

Caro leitor, você sabe quem foi procurar trabalho lá na Escola Nova? Isso mesmo a professora Jezabel, chegou lá dizendo que estava desempregada havia muito tempo, e não sabia mais o que fazer, quando ela marcou uma entrevista com a atendente, ficou certo que o diretor falaria com ela, no dia da entrevista, ela chegou toda arrumada, bonita e cheirosa, parecia uma atriz de cinema, não tinha aquele tino de professora, não lia muito, e só trabalhava o tema de sua disciplina, não gostava muito interdisciplinaridade.

No dia da entrevista, após bater suavemente na porta, ouviu uma voz familiar dizer: “Pode entrar por favor” era o diretor Felizberto, quando a professora Jeza entrou, e reconheceu o diretor com seu ex-aluno, ela o cumprimentou, começou a chorar, chorou muito, não sabemos ao certo os reais motivos, seja por saber que aquele menino seu ex-aluno progrediu tanto, ou por recordar que sempre tratava os alunos de um modo inadequado, e agora estava numa situação de precisar deste emprego, e deste menino, seu ex aluno!.

A professora, toda acabrunhada, criou coragem e disse: Bom dia senhor Felizberto da Vinci, ao que le respondeu: Bom dia professora Jeza, sente-se por favor, aceita uma chávena de chá? Sim abrigada, aquela chávena de chá era a única coisa que ele tomara desde cedo, pois não tinha as condições financeiras nem para comprar um cafezinho.

O senhor Felizberto, disse: Pois bem professora Jeza, após olhar o curriculum da senhora, devo dizer que fiquei muito impressionado, com os tantos cursos que a senhora concluiu, e em instituições de renome no país, isso é muito elogiável!, porém, para trabalhar aqui na Rancho da Pitanga, os professores candidatos a uma vaga, precisam ministrar uma aula para todos os membros da gestão, incluindo os demais professores, e após isso, aguardar a avaliação deste comitê julgador, se a senhora aceitar tal empresa, poderemos agendar.

A professora não esperava este tipo de situação, e por ser muito orgulhosa disse que não aceitaria, e levantou-se dirigindo-se à saída, como se o jovem estivesse provocando, ou querendo expo-la ao ridículo na frente dos demais, isso seria um absurdo, pensava a Jeza, porém o senhor Felizberto sabendo por fontes confiáveis que a situação dela era difícil, estendeu a mão e deu-lhe seu cartão pessoal, e disse: Caso a senhora mude de ideia, por favor ligue para nós, pois precisamos fechar esta vaga antes do inicio do período letivo.

A professora, ficou muito confusa, pois de um lado, estava precisando de um emprego, por outro o orgulho e a arrogância, lhes comia o fígado! Neste torpor de pensar em algum teste, ela ia pensando, enquanto chegava em sua casa, o que mais incomodava-a, era o fato de que seu futuro patrão poderia ser o seu antigo aluno, isso ela não conseguia engolir.

Após uns dois dias decidiu ir fazer o tal teste, telefonou e marcou o dia e hora, foi neste momento, que ela sofreu uma grande tristeza, a vaga já havia sido preenchida, por outra professora, cujas referências e experiência era muito grande, ela preencheu todos os requisitos, pois tinha uma visão, muito parecida com os métodos pedagógicos de muitos educadores.

Ela começou a passar muito mal foi socorrida pelos vizinhos, e levada ao hospital, com diagnóstico de pressão alta, os batimentos cardíacos muito elevados, e com uma febre de mais de 40ºc, após ser atendida, mesmo com todo o cuidado dispensado, veio a óbito, a causa morte, no atestado foi registado a causa morte: Ataque cardíaco fulminante.

Era domingo, numa manhã linda, quando muitas crianças estavam brincado numa praça defronte ao Hospital da Cidade, que a noticia do seu falecimento chegou a casa dos donos da Escola Nova do Rancho da Pitanga, todos ficaram tristes com o ocorrido, de modo que decidiram, enviar um arranjo de flores em nome da Escola, como homenagem, a uma professora, que ainda que não tenha ido trabalhar lá, teve algum contato.

O que leva uma pessoa a ser tão egoísta, ao ponto de não admitir que neste mundo, ninguém é dono de todo o conhecimento, e que todos, todos mesmo, estamos aprendendo o tempo todo, uns dos outros, embora haja algumas especialidades, mestrados e doutorados, mesmos estes doutores, não são donos de todo o conhecimento, longe disso, quanto mais estudamos e aprendemos, mais nos daremos conta do quanto necessitamos saber ainda...

Escola Nova do Rancho da Pitanga, já estava prestes a volta ás aulas, e tudo já estava organizado, foram contratados profissionais, capacitados, para receber e orientar os alunos, embora o uso de uniformes era algo obrigatório, a escola não tinha nenhuma dificuldade nisso, pois os alunos queriam usar, pois era considerado um orgulho o filho estudar numa escola de tão alto prestigio, os pais eram os que mais cuidavam para que os filhos tivessem não só um mais dois conjuntos de uniforme, algo que não acontecia, noutras escolas.

Após o ocorrido da véspera, era o primeiro dia de aula, tudo esta indo bem, quando a polícia chegou na escola, procurando o senhor Felizberto, este após ser informado, chegou para dar o atendimento, os policiais entraram no escritório do senhor Felizberto e após um café, disseram o objetivo da visita, havia uma denúncia de que o professor, havia participado na morte da professora, algo totalmente descabido, mas eles como agentes da lei deveria conduzi-lo para depor junto ao delegado titular.

Na delegacia, o depoimento havia sido completado, com a máxima clareza possível, de como a professora, havia sido tratada enquanto foi à escola procurando emprego, e todo o esforço que havia sido feito para trata-la de modo digno, inclusive, havia dado um cartão pessoal, para ela ligar caso decidisse participar da seleção, fato que foi confirmado, pois encontraram nos pertence da professora, o dito cartão de visita, e este foi o motivo de a polícia ter chegado ao nome de Felizberto.

Tudo tendo sido finalizado, designaram todas as tarefas, na escola, e rumaram de férias para a Inglaterra. O Velho Neco ria, ria, e afirmava que tudo isso havia acontecido, nas bandas da Pitanga.

Fim

By: Dead Dad em 06/06/2016

Cristino Mendonça
Enviado por Cristino Mendonça em 06/06/2016
Reeditado em 29/05/2023
Código do texto: T5659291
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