CONTO DE CAIPIRA

CONTO DE CAIPIRA

Lá na roça,
Bem roça, roça mesmo,
Roça de noite e de dia - onde nada fazer a num ser si roçar...
Nasce um rebento. Sem qualquer melhor aparato (eis o lamento).
E diz a muié pro Zé (o Zé Bento):
     - ei Bento, vem cá cortá o imbigo deste rebento.

E de pernas abertas (a muié, não o Zé), completou:
     - Tô tentando aqui e num consigo.

Então o Bento (o Zé), larga a cachaça, cospe o fumo, ajeita o chinelo de pé trocado e levanta em pé (não trocados), e resmunga marrento:
     - tá então. Tô ind' deixa comigo.
...

E foi de encontro a 'Das Dô' (o nome dela - Maria das Dores Dominique),
Gente humilde. Mas o nome é chique.
E meio que atrevido (ele, o Zé Bento),
Foi e cortou o cordão do fedelho menino (do nascimento, inda fedido),
Sem chilique, nem estrambique, suspirou...

Três lágrimas: a do Zé Bento, a da muié (Das Dô) e a do bebê.
... ainda sem nome logo depois de nascer...
E ele então (o Zé) parou de beber.
Nem mais pensou no alambique,
Deu estrimilique ...
E os três de almas penadas, caras lavadas, 
Pediram perdão e não sabem do quê...
Os pais... sem gritos nem ais...
Levaram as mãos pro céu naquela casinha de pau-a-pique.

(...)
E viveram felizes para sempre.