Reencontro

Quando o destino apontava para um tranquilo presente e um escasso futuro, conhece um outro mundo. Um mundo do que poderia ter sido e não foi. Ela tinha uma vida tranquila mas despojada de contornos excitantes. Resolveu descobrir o que faltava. Resolveu conhecer uma pessoa que ficou em seu passado sem ter entrado em sua vida.

De início foi uma experiência singular. Tratava-se de pessoa muito sofrida nos embates da vida. Muitas perdas acumuladas. Ainda assim não se entregara. Procurava viver intensamente. Buscara no aconchego da família e dos amigos a paz interior necessária para superar as perdas.

Ao reencontrar a pessoa que amara fugazmente quando jovem, para adquirir a liberdade sem afrontar sua consciência e convicções religiosas, resolveu romper com os laços afetivos do passado. Deixou o companheiro de muitos anos. Talvez também pelo esgotamento da relação. Ficou livre. Livre para fazer o que seu coração e suas vontades determinavam. Entregou-se, então, ainda que temerosa, de corpo e alma, ao amor de seu passado. Foi recompensada pelos momentos compartilhados. Alternou momentos de euforia irracional movidos pelas fortes emoções, com longos períodos de racionalidade quando desaprovava o que estava ocorrendo. Viveu um forte conflito.

Inconscientemente cobrava de seu parceiro também uma posição de ruptura com seus compromissos. Porque ela podia e ele não?

Não se tratava de medir sentimentos. Esperava ele, talvez, que poderiam levar a vida desafiando o destino. Ou, moldando o próprio destino.

Para ele seria mais fácil manter essa condição de dualidade. Daí o desencanto dela e os desencontros deles.

Esta é apenas uma fábula que pode ser real. É a percepção, pela mulher já madura mas com o coração ainda pulsante, do mundo fantasioso dessas duas criaturas. Entende que não deveriam perder a chance de desfrutarem momentos exclusivos para si. Ficarem sós, se amando, se entregando enquanto ainda tinham forças para tal. Seria desprezar a possibilidade de passarem momentos sublimes oferecidos por um destino redesenhado por ambos. Se no passado os seus caminhos seguiram rumos divergentes, o presente teimou em reaproximá-los. Por que não aproveitar sem muitas cobranças essa dádiva dos deuses?

Chico Tavora
Enviado por Chico Tavora em 22/07/2016
Reeditado em 17/09/2019
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