Esquizofrenia progressiva:

Certa vez, em um dia qualquer na URSS, um homem foi ao psiquiatra.

 — Bom dia! Eu ultimamente ando tendo umas fobias estranhas.

Analiticamente, o psiquiatra perguntou:- Que tipo de fobia?

 — Bem, doutor! Quando eu escuto que segundo Karl Marx algo deve ocorrer da seguinte maneira, eu me tremo todo! Disse o paciente com ar de quem estava cometendo um crime.

 — E como isso se manifesta? Continuou o psiquiatra friamente.

 — Bem, ultimamente tenho visto gente se utilizando de certos jargões indecorosos contra quem se manifeste contra eles. Às vezes, desejo manifestar minha opinião, mas certos movimentos tentam me fazer crer que não tenho suficiente local de fala, ou vivência. Em outros momentos, me sinto como se quisesse fazer algo que gosto, usar algo que acho bonito, mas me fazem acreditar que estou me apropriando culturalmente dos outros. Juro que não quero fazer isso, mas isso me faz temer Marx como o diabo foge da cruz.

 — Entendo, senhor! Mas isso é muito grave! Falou o médico como se presenciasse terríveis alucinações.

 — Às vezes eu acho que desejo reformar a sociedade. Disse o paciente suspirando, certamente estivera com medo do diagnóstico.

 — Tenha calma, querido! Primeiramente desejo que entenda que em si mesmo nada há que seja de todo mal. Você está sendo um instrumento de uma super estrutura transcendente, mesmo que pense querer justiça. Seu corpo é instrumento de um esquema opressor que vai além de qualquer conjuntura política que possa imaginar. Descreveu pacientemente o diagnóstico como um veredito final. O médico estava muito preocupado.

 — Como assim, doutor? Diz-me que meu impulso pelo uso da razão é simplesmente um desejo de servir a algo que transcende a mim mesmo e a humanidade. Me recuso a crer que sou um mero servo do mal. Claro que resta em mim algo de autonomia.

O paciente se encontrava em estado de pavor, o médico ao ver isso respondeu:

 — Entendo seu medo, mas há algo que preciso lhe falar. Você, mesmo que se sinta como um paladino da justiça e da razão, deseja inconscientemente servir a esse algo transcendente. Você não é vítima mas também não é culpado. Mesmo que não queira fazer mal a ninguém , sempre irá fazer o mal. Sua mente é escrava da super estrutura , e disso posso salvá-lo. Para o seu bem, eu devo interná-lo.

E assim correu mais um dia de honestidade intelectual na psiquiatria soviética.

Eric Deller
Enviado por Eric Deller em 25/07/2016
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