A Capivara Mimosa

A Capivara “Mimosa”

O nome era de santos, Antonio Agostinho, também chamado de Tonho, de família muito religiosa, o pai devoto de Santo Agostinho e a mãe de Santo Antonio.

Morava no mesmo sitio, que outrora fora uma fazenda do pai, agora dividida entre os muitos filhos, restou a ele um pedaço de terra, embora pequeno conseguia retirar dali o seu sustento e ainda sobravam uns caraminguás.

Suas terras eram muito férteis, e ainda teve a sorte de ficar com a várzea, onde podia plantar continuamente, até porque a umidade fazia brotar o ano inteiro.

Como era organizado e atento às tecnologias, fazia rotações de culturas que evitavam as pragas de uma lavoura contínua e supriam as necessidades nutricionais das vaquinhas de sangue holandês, quase puras, de leite gordo e farto.

Do leite fazia queijos, os melhores da região, manteiga e da sobra do soro, uma gostosa ricota temperada.

Na vargem, alternava milho no verão, para silagem, e aveia no inverno.

A vida seguia sem solavancos, lida de dia e a noite sono tranqüilo.

No terreiro um imponente galo carijó, era perseguido por um bando de galinhas caipiras, que continuamente lhe forneciam ovos e frangos.

Sábado era o dia da venda dos produtos, que se transformava em passeio certo na cidade, distante 5 Km, atender a clientela, pegar novos pedidos, fazer no supermercado a compra de alguma necessidade da despensa, e trocar um dedo de prosa no Bar do amigo Chico, antigo colega da escola primária.

A vida poderia ser classificada de monótona, mas convenhamos, os problemas das cidades ele só conhecia pelo noticiário da TV, que era sempre desligada após o término do jornal da 8, com o comentário.

- Que barbaridade, só dá noticia ruim...inté manhã.

Certo dia, Tonho começou a notar um movimento na roça de milho, foi verificar e identificou uns pés de milho, já começando a granar, quebrados e suas espigas comidas.

Revisou as cercas, tudo em ordem, procurou por prováveis intrusos e nada.

Sucessivamente dia após dia, alguns pés estavam no chão, então era necessário uma melhor pesquisa.

Tonho chamou um vizinho, que sempre dizia conhecer tudo,inclusive umas rezas de espantar assombração.

O tal, foi por lá, benzeu os cantos, fez umas rezas e garantiu que o mal havia sido expulso.

Dia seguinte conferindo a roça, outra vez, pés haviam sido arrancados.

Desta vez, foi direto na cidade, atrás do responsável pela secretaria de agricultura do local.

- Tonho,pelo que você esta me contando, só pode ser capivara, foi taxativo.

- Elas estão invadindo tudo que é roça, acabaram com suas moradas, agora atacam o que encontram.

- E num tem jeito, moço?

- Tem não, inclusive é proibido matar a capivara, dá até cadeia, é bicho protegido.

Tonho voltou amuado pra casa, sem saber o que fazer, falou com a mulher tentando justificar ou ter dela uma idéia.

- Tonho, e se ocê fizé uma armadilha, ai a tar cai e morre de morte naturar.

- Cê ta certa, amanhã eu faço isso logo cedo.

Dia seguinte, pulou da cama, foi logo tirar o leite, já bolando como seria a tal armadilha.

A conclusão foi de fazer um buraco fundo, de mais ou menos um metro e meio de boca, afinal não sabia do tamanho do bicho.

Passou quase todo o dia na luta de escavar o tal buraco, ficou uma maravilha grande e fundo , e ainda para arrematar, uns paus fincados no fundo com pontas afinadas, pensou, caiu morreu.

Por sobre a boca, umas taquaras faziam uma tampa falsa, e sobre essa umas espigas de milho semi descascadas.

Moleza, nenhuma capivara resistiria a tal iguaria.

Naquela noite Tonho foi dormir cansado, mas satisfeito, afinal seus problemas estavam com as horas contadas.

Quatro horas, o galo carijó, arriscava seus primeiros cantos e o Tonho, já apressado calçava suas botinas.

Era preciso verificar a armadilha antes da tirada do leite.

O céu ainda escuro, o chão orvalhado, nada iria impedir de ver o desfecho, e lá vai nosso amigo em busca da vingança.

O caminho até o ponto era por demais conhecido, mas o facho de luz da velha lanterna o ajudaria a identificar melhor o bicho.

Chegando perto do buraco, Tonho reparou em barulhos vindo de lá, tipo ofegante, agonizantes, não teve dúvidas, a armadilha fora um sucesso.

Apressou o passo, e já na borda com o auxilio da lanterna verificou o ocorrido, ali no fundo do buraco já dando seu último suspiro, transpassada por paus ponteagudos acabava de morrer a “Mimosa”, sua melhor vaca de leite.

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 25/07/2007
Código do texto: T578452