Coisas de Criança.

Chovia uma garoazinha fina e fria, mas a mãe já tinha nos arrumado, eu com cinco aninhos e meu irmão, um ano mais novo. Não sei porque, mas me lembro perfeitamente dessa passagem de minha vida. Eu estava vestido com uma calca de flanela, muito usada na época, uma camisa branca do cruzeiro e uma blusinha de lã esverdeada. Sapatinho mocassim e meia, além de um gorrinho preto. O meu irmão estava igualzinho a mim, a única diferença era a camisa dele que era do galo. A gente ia visitar uma vizinha cujo a mãe havia falecido, mas eu e meu irmão, não tínhamos noção de nada disso. A gente sabia que ia passear. Ela morava na mesma rua Pio XII, umas quatro casas abaixo da nossa, só que do outro alinhamento, porém para chegar na casa que ficava no alto de um barranco, tinha que subir uma escada que foi escavada na terra mesmo e escorada com uns pedaços de tábua e por causa da chuva estava perigoso escorregar, a minha mãe ainda estava gravida de minha única irmã. A gente chamava essa vizinha de “Ló”, era uma mulher muito amigável, já não era nova, mas era solteira nessa época. Lembro-me que ela casou muito tempo depois disso. Morava ela, mais uma irmã e um irmão. A gente conhecia aquelas pessoas muito bem, pois éramos vizinhos há muito tempo, para eu e meu irmão, desde de sempre. Passava um pouco das seis horas da tarde, mas já estava bem escuro, na casa não tinha energia elétrica, era um lampião pendurado na sala e duas lamparinas, uma em cada canto da sala. De onde a gente estava, onde minha mãe tinha nos colocado sentadinhos em um banquinho de madeira, baixinho, porque ficávamos com os pés no chão e olhávamos para um lado e via um quarto todo escuro, cujo a porta era um pano, que estava enrolado e pendurado em um pedaço de arame pregado naquela parede de adobe. Do outro lado era a cozinha, iluminada pelas chamas do fogão de lenha. Quando nós chegamos, todos se abraçaram e a nos também, sentaram todos na sala, conversaram um pouco, até que a dona da casa se levantou e falou que ia buscar um café para nos servir. Passados poucos minutos ela voltou a sala com um prato esmaltado e com uns copinhos feitos de latinhas de massa de tomate, saia muita fumaça do café que esquentou muito aqueles copinhos também muitos usados naquela época. Eu e meu irmão na inocência de nossos poucos anos e pelo costume que estávamos habituados, pegamos aqueles copinhos de café e imitando os mais velhos ficávamos assoprando, meio sem graça e até mesmo sem saber o porquê daquilo. De repente quando eu pensei em tomar o café e levei o copinho a boca, meu irmão olhou para mim e com o ar assustado, segurou meu braço e falou assim: “Espera o pão irmão “. Pois toda vez que a gente ia beber café era com pão. Então ele pensou isso. A mãe só olhou para nos. Sabíamos que ela não ia deixar aquilo barato quando chegássemos em casa, ela era brava. Mas são coisas de crianças.

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 07/02/2017
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