O Homem que voltou.

Quando ele chegava, logo o grupinho de pessoas se desfazia. Se ele estivesse em algum lugar ninguém se aproximava, suas conversas, suas indagações eram muito desagradáveis. Havia quem dizia que ele trazia até má sorte, devido a tanto pessimismo em suas palavras. Todas as vezes que ele conseguia adentrar em uma conversa (fato raro por sinal), seus palpites, sugestões e opiniões sempre eram do contra, ele dizia “- Não vai dar certo, - Isso não tem jeito, - Ninguém consegue fazer isso”. Era sempre assim, então ele começou a desfrutar de uma amarga solidão. Se alguém o visse, andando solitariamente pelas ruas da cidade, sentia até dó, daquele jovem de tão boa aparência, mas de enorme índole negativa. As vezes a pessoa até se aproximava, mas logo ouvia uma saraivada de respostas negativas, destrutivas que largavam para lá. Pertencia classe média, tinha tudo que precisava. Tinha um bom carro, casa boa, seu pai era dono de uma rede lojas de peças artesanais que aquele jovem negativo fazia tão bem. Suas peças eram cheias de mistérios, tendenciosas, críticas e com uma aparência lúgubre, mas (vai entender), que fazia muito sucesso. Aquela figura era um verdadeiro mistério na cidade. Ele era inexplicável, frequentava as Igrejas, participava de festas folclóricas, religiosas, culturais, ele estava pressente, sozinho, mas estava lá. Várias pessoas tentaram se aproximar dele, pessoas do bem e também do mal. Ninguém obteve sucesso. Algumas moças também até tentaram um relacionamento, pois ele era bonito, tinha uma segurança financeira, podia frequentar bons lugares, isso as atraiu, mas nenhuma durou mais que uma semana. A Família, durante o passar do tempo, fez de tudo, médicos, psicólogos, padres, pastores e até terreiros. Mas nada conseguia tirar aquele pessimismo do rapaz. Ninguém o maltratava, mas também não se aproximavam. Até que um dia aquele jovem, aceitou uma oferta de seu pai, que lhe proporcionou uma turnê pelo mundo. A Única exigência era que ele passasse algum tempo na Dinamarca, segundo as tradições de sua família, era o berço de seus antepassados. Isso seria bom. Como a cidade que eles moravam era pequena e todos se conheciam, os moradores ficaram sabendo da viajem e torciam muito para que o comportamento daquele jovem mudasse. O Tempo foi passando até que dez anos depois, a cidade inteira tomou conhecimento que o jovem iria voltar, Ninguém teve notícias dele, simplesmente, de tempos e tempos, mandava um cartão postal de onde estava, junto com uma foto e um protótipo de alguma peça. Isso também aumentou muito as vendas, pois as peças que continuavam com o mesmo perfil, mas foi acrescentado toques estrangeiros, o que melhorou muito mais os negócios da família. Pela aparência na foto, aquele jovem havia encorpado, tomado ares de adulto, semblante de homem feito. Pela aparência, muitas moças ficaram encantadas com ele, inclusive muitas que tentaram um relacionamento quando ainda eram adolescentes. Então o retorno daquele homem se tornou o assunto da cidade, todos queriam vê-lo, saber se aquela fase de “uruca”, havia passado. Afinal, dez anos viajando pelo mundo. No dia da chegada, a cidade em festa para receber o filho ausente. Chegaria as 14:00 horas na pequena Rodoviária, porém as 12:00 horas já estava tudo pronto para recebê-lo. A Prefeitura tinha enfeitado a pracinha com bandeirinhas, retratos dele quando jovem, barraquinhas vendendo salgados, sucos, agua, seu pai havia montado uma barraca para vender e até mesmo brindar um ou outro com algumas peças antigas de estoque. A banda de música da cidade estava lá, o prefeito, os vereadores, até policiamento tinha. A pompa era para receber uma verdadeira autoridade. Quando o Ônibus encostou, ao abrir a porta, a banda começou a tocar, as crianças das escolas municipais balançando balões de todas as cores, bandeirinhas e um foguetório foi ouvido. Todos queriam vê-lo, aqueles que o conheciam e os que nunca o haviam visto, mas conheciam sua história. Primeiro o Prefeito falou em nome de todos os políticos e moradores, entregando-lhe as chaves da cidade, depois seu pai falou e com os olhos cheios d’água dizia a todo momento que torcia muito para todo aquele negativismo, pessimismo e forças destrutivas tivessem passado e que seu amado filho tivesse se curado daquele mau agouro. O Jovem ainda não tinha falado, todos queriam ouvi-lo. Então ele pegou o microfone, com um olhar altivo, sabedor da importância de suas primeiras palavras, olhou o céu, muito azul, poucas nuvens, sol brilhante, pessoas super animadas, autoridades cheias de orgulho e seus familiares demonstrando uma alegria incontrolável. O Jovem fez um breve silencio e depois disse; “Acho melhor todo mundo ir para sua casa, porque poderá chover”.

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 25/02/2017
Código do texto: T5923755
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