Claudia Raia.

Faltavam, uns dez minutos para a meia noite, daquele 24 de março do ano 2004, início de uma madrugada que prometia muita confusão, pois madrugada de sábado era muito trabalho, muita ocorrência, eu ali no meu plantão policial, trabalhando de telefonista, solitário, mas rodeado por sons, radio de comunicação com interferências de outras cidades, se não tiver com o ouvido apurado, passa batido e pode perder alguma informação importante. Aquele local, conforme alguns colegas já haviam relatado que vez ou outra escutava barulhos estranhos, fantasmagóricos, (isso é típico de escolas, quartéis, hospitais, repartições públicas), ficam muito movimentadas durante o dia e no silencio das madrugadas se imagina ouvir sons. Bom esta é uma explicação, mas quando você está la sozinho, a certeza de que se ouve algo , é real, não parece nada imaginário. Bem não havia nada que pudesse fazer em relação aquela situação, a rua estava completamente vazia, não se ouvia nada, de repente, o tempo começa a se fechar e um raio ilumina toda a região e em seguida um trovão estrondoso, que faz os aparelhos de transmissão entrar em colapso e disparam tudo que era alarme ali existente, em seguida um outro trovão e pronto a luz se apaga. Apenas com uma pequena lanterna, tento verificar e tomar controle da situação, como fui treinado para situações assim, primeira coisa que verificar, se o apagão era geral, na redondeza ou só ali no prédio, constato que era só na redondeza, fui até o portão de entrada trancando-o, depois as janelas e as portas. Bom alguns minutos após a energia voltou parcialmente e parece em apenas uma fase, não suficiente para acender todas as lâmpadas. Porem o serviço continuava tranqüilo aquela noite, não estava acontecendo nada, quando de repente ouço uma gritaria do lado de fora, parecendo que alguém estava batendo em alguém, rapidamente olhei pela janela e não vi nada, o silencio voltou a reinar e eu fui me acalmando do susto, quando de repente começa tudo de novo, outra gritaria, barulho e começo de confusão, olho e novamente não veja nada do lado de fora. Nesse momento eu comecei a pensar que só podia ser minha imaginação, eu fiquei na duvida, pensei acho que nem vou pedir um apoio da viatura aqui, porque eles vão é rir de mim, achar que eu to com medo de assombração. Durante uns minutos, ficou tudo caladinho, a tempestade que se anunciava foi embora, a energia voltou e os aparelhos começaram a funcionar novamente dentro da normalidade. Foi ai que eu ouvi um dos gritos mais desesperadores que já tinha ouvido em toda minha vida, eu levei um susto de um tamanho, que quase cai da cadeira que estava sentado. Pensei agora não tem jeito, tenho que pedi um apoio e chamei a viatura que rapidamente compareceu no quartel, contei para eles os barulhos esquisitos e saímos todos com lanternas procurando, fizemos uma busca minuciosa por tudo quanto era lugar, nas imediações, em cima no telhado e nada. Ficou-se a impressão que era cisma minha. Como todo mundo falava de assombração, a gente pode até não acreditar, mas numa hora dessas você sozinho em um lugar e com a certeza de que ta ouvindo algo, é muito complicado achar que não tem nada a ver. Bem o pessoal ainda ficou mais um tempinho ali comigo e tudo no mais calmo silencio. Então voltaram novamente para a rotina do serviço e eu ali de novo em minha cismada solidão, quando de repente outro grito, mas dessa vez eu consegui perceber um pequeno movimento em uma cadeira que ficava na varanda, então, com as luzes acesas e a lanterna, olhei por baixo e achei o autor de toda a gritaria, puxa vida foi um alívio. Era uma maritaca, coitada toda machucada, parece que tinha sido atacada por algum gato ou outro animal e quando este se aproximava ela gritava. Com minhas interferências e a do pessoal da viatura, penso que ela não se sentiu ameaçada e ficou caladinha, mas quando ficava sozinha ela gritava, talvez para espantar seu agressor. Ela estava muito machucada, então com muito cuidado, consegui capturá-la com um pano, a trouxe para minha casa e cuidamos dela, chamei a policia Florestal, que me deu a ave em deposito fiel, cuidamos dela, ela se curou e esta conosco até os dias de hoje. Saudável, bonita e faceira, ela só não fala, não aprendeu, mas sabe gritar e ri, isso ela faz. Nunca vi ninguém procurando por ela nem dando queixas de seu desaparecimento. Quando meu filho mais novo a viu, já foi logo chamando de ela Claudia Raia e assim ficou.

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 21/03/2017
Código do texto: T5948254
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