CASA FANTASMA

ESTE É UM DOS MEUS PRIMEIROS TEXTOS :

Isso aconteceu há algum tempo atrás, exatamente doze batidas no relógio da igreja. Aquilo não era normal, porque estava no final da noite e no começo da madrugada e não era costume os sinos da Igreja badalarem naquela hora. Para quem tem medo, era a hora das assombrações, feiticeira e coisas do gênero, saírem de suas tocas, tumbas e sei lá mais o quê. Eu estava tão pertinho da Igreja da matriz e como bom católico que sou não era para sentir nenhuma repulsa, nenhum medo, só porque estava uma noite muito escura, não tinha ninguém mais na rua. É, mais a proteção de Deus é sempre boa e conveniente a qualquer hora e local. Resolvi então que passaria na porta da Igreja, faria uma oração para me ajudar a acabar de chegar em casa. Eu estava ali, onde hoje é a Copiadora do Salomão e subia rumo a praça, passei em frente a casa paroquial, dei uma reforçada na fé, fazendo o sinal da cruz e subi olhando para todos os lados inclusive para cima e para baixo. Naquela época ainda não existia tantos acontecimentos violentos quanto hoje, então, nós também nem nos preocupávamos com essas coisas, a questão ali era assombração mesmo e ainda porque mesmo que atravessasse o passeio, eu tinha que passar em frente a um casarão velho, ou seja as ruinas do que foi um casarão e que estava ali, não sei quem é o dono. Não sei por que, mas, deveriam tombar como patrimônio histórico, soergue-la, transformá-la em museu ou algo assim, já que a cultura local ainda busca um lugar ao sol e pouco se investe nessa área. Mas, o fato é que deveria passar por ali. No final do passeio estava aquela casa, abandonada, sozinha, sem cuidados, sabe-se lá se transformada em esconderijo de alguém com pensamentos malignos, o que acredito não ser o caso, mas, talvez para portadores de dependências químicas que por questões da lei ficam escondidos da sociedade fazendo uso daquilo que poderá matar-lhe um dia. Eu pensava tudo isso e continuava andando, não vou correr, posso andar depressa, mas correr seria uma humilhação para mim, um cara já não tão novo, policial, correndo de assombração, ah... Se alguém descobrir isso, viraria com certeza alvo das maiores gozações. Não tem outro jeito, vou passar ali. Passarei depressa e nem vou olhar para essa maldita casa. Quando eu estava em frente a primeira janela da casa, senti uma brisa suave e perfumada passando por mim e fazendo de uma forma que parecia que queria me fazer sentir aquele cheiro de dama da noite e para quem estava com tanto medo de assombração, a sensação era até boa. Passei pela primeira janela e cheguei na segunda, foi quando eu percebi algo balançando dentro da casa, incrível mais era como os fantasmas que nós vemos na televisão, aquela espécie de lençol branco, balançando para lá e para cá e ainda parecia que fazia boooooooooooooo. Nossa. Meu coração disparou e andei mais depressa, mas ainda faltava uma janela para passar, parecia que meus pés estavam pregados no chão, eu fazia força, mas não saia do lugar, até que enfim consegui chegar na última janela. Puxa, estava quase passando, quando ouvi um barulho parecendo de porta ou janela batendo. De repente um vento mais forte soprou, uma brisa, saída não sei de onde, com aquele barulho levei um susto que dei um pulo para frente e fiquei exatamente em frente ao pequeno alpendre da casa. Nesse momento quando eu achava que a tormenta já tinha passado, eu ouvi um assobio arrepiador, assustador, parecendo que alguém soprava por um funil, ou um berrante, um assobio muito fino, que eu pensei, agora já é demais: Não teve jeito, sai correndo, só dei uma paradinha e fiz o sinal da cruz no rumo da porta da Igreja e sai correndo até chegar na casa onde eu morava que era no final da Rua frei Anselmo. Corri tanto que não gastei nem cinco minutos para chegar. Dormi muito mal aquela noite, mas, não contei para ninguém sobre aquele medo, aquela cisma. Só que no dia seguinte, eu estava de serviço a pé e justamente ali naquela região da casa que para mim se tornara mal-assombrada. Mas o dever tinha que superar o medo e eu devia passar em frente essa casa o dia inteiro, andando para lá e para cá. Na primeira vez que passei, já era durante o dia, a rua estava cheia de gente, de carros, mas eu nem olhei para o lado da casa, da segunda vez, arrisquei uma olhadela rápida. Aí de repente me veio uma vontade de ver ou tentar ver, ou descobrir e desvendar meus medos. Saí de onde estava, ali na Praça do Savon, com o objetivo firme de chegar até a casa e até de entrar lá dentro pra ver. Estava abandonada mesmo e se encontrava em ruinas, se alguém me visse entrando pensaria no máximo que eu estaria ali para aliviar alguma necessidade fisiológica, mas nunca pensariam que era medo de assombração. Saí então andando depressa, mas durante o trajeto, a velocidade foi diminuindo assim como a coragem e a determinação. Pensei. Eu acho que vou olhar por fora mesmo, não preciso entrar não. Bem cheguei em frente a casa, logo na primeira janela, vi lá no fundo do quintal, um pé de Dama da Noite, que a noite exalava aquele cheiro maravilhoso. Cheguei na segunda janela e vi que tinha um pequeno pedaço de pano enrolado numa pequena ripa de madeira tipo um pedaço de cortinado, que com o vento balançava para lá e para cá e com o pedaço de pano que sobrava fazia um barulho que parecia booooooooooo. Na terceira janela, não tinha mistério, era mesmo uma janela velha que não fechava e com vento ficava batendo e fazendo barulho. Ao chegar no rumo do alpendre, tamanha foi minha surpresa, uma garrafa de cerveja, com o fundo quebrado, e presa entre alguns escombros, ficava de forma que vento entrava pelo quebrado e saia pelo bico fazia aquela espécie de assobio. Ufa! Tudo explicado. Não tinha assombração e nem fantasma. Agora o badalar do sino não existiu, eu só contei para criar um ambiente apropriado para o caso. Mas, eu te pergunto: Você tem coragem de admitir que também já passou por situação semelhante ou parecida? Por Via das dúvidas, eu também tenho evitado passar por ali à noite.

 

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 30/03/2017
Código do texto: T5956736
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