RICO E AUTOSSUFICIENTE

Era um senhor com seus cinquenta e poucos anos de idade, cabelos grisalhos, barba rala, olhar compreensivo, cheio de alegria e confiança, daquele tipo que pensa, porque, nunca passou por necessidades, nunca irá passar. Começou a trabalhar muito cedo, conseguiu abrir seu próprio negócio e sempre prosperou, nunca teve nenhuma queda de produção, nunca tomou um calote. Sempre vendeu bem e sempre trabalhou sem estar ou ficar apertado para cobrir nenhuma dívida, sempre pagou seus funcionários em dia, que não tinham nada para reclamar do patrão, que cumpria com todas suas obrigações empregatícias. Ele se dizia super competente, se considerava autossuficiente, achava que nunca iria passar por nenhuma dificuldade. Pensava e falava que tudo que ele tinha, e foi conseguido com muita luta e muito sacrifício e que nunca precisou de nada e nem de ninguém para obter seu sucesso. Se por acaso alguém falasse para ele sobre Deus, ele mudava de assunto e não falava. Ninguém sabia se era ou não religioso, ninguém nunca o viu participando de uma missa ou culto evangélico, a imagem que ele deixava transparecer, era de que não atribuía seu sucesso a Deus. Um dia, logo pela manhã, acordou com um grande estrondo, parecido com um trovão, mas olhou para a janela e viu que o sol era forte e brilhante, não era chuva, nem trovão. De repente começou a sentir um cheiro forte de queimado e percebeu um facho de fumaça passando por de baixo da porta de seu quarto, desesperou-se em pensar que sua casa, sua bela casa estava incendiando. Levantou rapidamente e abriu a porta do quarto, viu as chamas consumindo os móveis de sua sala. Móveis caros, na maioria importados. Nesse instante entrou na sala, correndo dois homens muito fortes, ambos vestidos de pretos usando capuz, todos os dois armados e bastantes nervosos, com o susto e talvez pelo reflexo e sentimento de alto defesa, ele partiu para cima dos bandidos, que com um golpe na cabeça o derrubou, jogando-o em um canto da sala, amarrando-lhe os pés, as mãos e a boca com fita adesiva. Para aumentar ainda mais o terror daquela cena, chegou na sala, a esposa do homem, ela ainda se encontrava com roupas de dormir, quando foi vista pelos bandidos. Eles se encheram de cobiça sexual e aconteceu de tudo ali naquela sala, na frente do marido, a mulher foi estuprada, humilhada, depois jogada perto do marido e também foi totalmente amarrada. Nesse instante, o homem se lembrou de sua pequena filhinha de oito anos que estava dormindo e ele temia que ela acordasse e também fosse para sala e fosse vista pelos bandidos. Nesse momento, foi quando ele talvez, pela primeira vez na vida, pensasse em Deus e pediu com toda sua força para que não deixasse a criança acordar e nem que os bandidos fossem até o quarto. Já fazia quase meia hora que eles estavam ali, sob a ameaça daquela dupla de bandidos, que já havia revirado todos os cômodos da casa e o fogo também ardia em chamas, consumindo a sala. Interessante que parecia que ninguém na rua estava vendo aquilo, ninguém chamava os bombeiros, quando um grito ensurdecedor veio do quarto da criança, nesse momento com os olhos cheio d’água, com o coração completamente rasgado, de dor e tristeza. Já não sabia mais nada e somente pensava em Deus, pensava, porque isso estava acontecendo, porque com ele que nunca fez mal para ninguém, que sempre ajudou as pessoas, ora, em pensamentos esbravejava contra Deus, pedia proteção. Ele pensava no que mais poderia acontecer, quando de repente alguém bateu na porta. Quem seria? Será que essa pessoa não estava vendo o que estava acontecendo? Um dos bandidos abriu a porta da casa e para sua infelicidade completa eram seus sogros, um casal de velhinhos já de idade avançada, ela completamente surda e ele quase cego. O casal de velhinhos nem acabaram de entrar e foram alvejados com um tiro cada um. Morreram na hora. Puxa aquilo foi demais, ele não resistia, seu coração disparou e estava quase saindo pela boca, parecia que iria sofrer um enfarto. Sua privacidade invadida, sua mulher estuprada, seus sogros assassinados, sua filhinha sem saber o que tinha acontecido. Os bandidos chegam na sala novamente, com uma caixa de papelão cheia de dinheiro, todo o dinheiro que ele tinha em casa e que iria pagar seus fornecedores e funcionários naquele dia. Aquele maldito dia que amanheceu para ele com cara de inferno. Aquele que nunca falou de Deus, parecia estar no inferno. Eles com toda aquela carga preciosa, depois de arrasar e destruir sua família, disseram ainda que levariam os dois carros da família, porque eles não iriam precisar mais daqueles automóveis. Nesse momento aquele homem que se considerava autossuficiente, que nunca precisou de ninguém, que nunca falou sobre Deus, fez uma fervorosa oração, pedindo a Deus que lhe protegesse não ele, mas o que sobrara de sua família. Quando de repente sentiu um solavanco muito forte e ouviu a vozinha de sua filhinha lhe chamando, “papai, papai, ”, ele abriu os olhos assustados, sem entender direito o que estava acontecendo, viu sua filhinha lhe chamando, lhe abraçando, lhe beijando. Olhou para o lado e viu sua linda esposa acordando, radiante e linda como sempre. Seu quarto estava em ordem, não havia fogo e nem fumaça, tudo aquilo era um sonho e ele respirou aliviado. De repente ouviram um grande estouro, seu coração bateu mais forte. Será que o pesadelo iria começar? Levantou de um só pulo e correu até a janela do quarto e viu seus queridos sogros chegando em sua casa no taxi do Senhor João e, que acabara de estourar um pneu. Ele respirou aliviado, olhou para cima, pensou algo, que jamais saberemos o que é, sei que naquela mesma tarde toda a família foi à missa.

 

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 30/03/2017
Código do texto: T5956745
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