Meu pai e os bichos.

Meu pai sempre foi um homem ligado as coisas do campo, apesar de ter saído da roça muito cedo para tentar a vida na cidade, nunca esqueceu suas raízes rurais e ainda mais, seu maravilhoso dom de ser querido pelos os animais, domésticos ou não. Ele era uma pessoa incrível para lhe dar com os animais, bondoso, carinhoso e respeitador. Eu não sei como, mas parece que tudo que era bicho compreendia o que ele fazia, parece que existia uma sintonia entre eles. Bem lá no fundo da minha casa tinha um “chiqueiro” e era só meu pai chegar em casa, lá na porta da sala, mais ou menos uns 100 metros de distância, que os porcos detectavam sua chegada e davam o sinal e aí o quintal virava uma festa, galinha, passarinho, porcos, cachorros, gatos, tudo quanto era bicho, da casa ou visitantes ficavam numa alegria só. Teve uma época que meu pai tinha mais de cinquenta frangos, sabia o nome e conversava com todos, quando a família se reunia, ele comprova um frango para não ter que sacrificar um dos seus. Os porcos, ele chegava abria a porta do chiqueiro e ficava andando com os bichos pelo quintal, somente ele podia pegar os leitãozinhos, outra pessoa a porcona virava uma fera. Ele tinha quatro galos índio puro que era as joias dele, gostava de exibi-los e falar da estirpe e pedigree das aves, que eram muito caros, mas só os tinha para exibi-los. Nessa época, minha casa parecia estar no meio de uma selva, apareciam por lá micos, aves, pequenos animais, como preás, tinha uma raposinha que sempre deixava sinais de sua passagem, até uma família de tatu, andava pelas redondezas, um grande e velho tucano, ficava em cima do grande eucalipto, só olhando. Toda manhã ele parava ali, apesar de somente meu pai se aproximar deles, ninguém colocava em dúvida, sua habilidade com os animais. Tinha um porco espinho que vivia intimidando os cachorrinhos e meu pai ficava dando conselho para os cachorros e tinha hora que reprimia o animal espinhento, parecia tentar conciliar os bichos. Uma vez uma gata deu à luz há uns 10 gatinhos e os criou no meio do mato no fundo lá de casa, os bichinhos cresceram como animais selvagens, somente meu pai se aproximava deles, mas a noite eles visitavam as casas dos vizinhos, naquela época os quintais eram abertos, não tinham cercas, nem maldade e nem ruindade de ninguém. Em uma bela noite, acredita-se que os gatinhos em suas caçadas noturnas, entraram em um quintal e atacaram as gaiolas de papa capim de um vizinho. Comeram um punhado de passarinho e destruíram as gaiolas e fugiram para o mato. Todo mundo viu. Nossa isso repercutiu mal, sabiam que meu pai não gostava de pássaros presos, mas não atribuíram o ataque a ele. Aí uns garotos inventaram uma “gatoeira ”para pegar os famigerados predadores noturnos. Isso causou uma preocupação tremenda em meu pai. Sem nenhuma explicação, os bichamos sumiram, sei que ninguém nunca mais viu esses gatinhos e nem sinal deles. Acho que meu pai deve tê-los levado para bem longe dali. Isso nunca ficou provado, mas os gatinhos desapareceram para sempre. Em um belo dia, o sol já ia alto quando fui até o chiqueiro e olhei atrás da cerca e levei um baita susto, meu pai estava dando uma goiaba a um filhote de urubu, já estava grandinho e meu pai falava que já tinha uns quatro meses que ele estava tratando da ave. Ela não era completamente negra, tinha umas pequenas claras, nunca tinha visto. O Tempo foi passando e meu pai se apegando ao urubu e a ave demostrando reciprocidade naquele tratamento carinhoso. Ele não voava ainda, mais andava o quintal inteirinho atrás de meu pai, onde ele ia, o urubu ia atrás. Após uns seis meses a ave começou a alçar voos, as vezes saia de manhã e voltava a noitinha e dormia em seu ninho, as vezes passava-se dois dias, depois semanas, até um dia saiu e nunca mais voltou. Poucas pessoas ficaram sabendo dessa amizade. Meu pai viveu toda a vida dele assim, com muito carinho pelos animais. Quando ele faleceu em 1998, nosso quintal, não tinha mais porcos, mas mesmo assim ouvia-se muita cantiga de pássaros, barulho das galinhas, de cachorros e outros bichos, mas dia durante esse triste dia, foi um silencio intrigante, coincidência ou não, não se ouvia nenhum ruído dos animais.

lá no céu, bem lá no alto, havia muitos urubus voando em círculo bem em cima de nossa casa. Não sei se os animais sabiam o que tinha acontecido.

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 29/06/2017
Código do texto: T6041135
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