*Cachorro-quente

Cachorro quente

Conta-se que, no século passado, um coronel do interior tinha um filho na capital distante, estudando para ser doutor. Só que o rapaz estava mais interessado na vida noturna, que ninguém e de ferro, e, para isso, precisava de dinheiro. Para tanto, todos os meses reclamava para o pai que a vida na capital era cara, que os estudos eram pesados e ele estava se alimentando mal. Da forma como estava, corria o risco de nem terminar o ano. Era urgente, portanto, que lhe aumentasse as verbas, pois ele se alimentava quase que exclusivamente de cachorro-quente. Que não estava mais aguentando aquela vida miserável, comendo a mesma porcaria três vezes ao dia. Para viver daquela forma, ele preferia ser empregado dele na fazenda, pois passaria muito melhor.

Por aquele tempo, conheciam-se apenas as linguiças artesanais, feitas nos açougues comuns. As salsichas enlatadas ainda não haviam chegado ao interior e o pai não fazia ideia do que era cachorro-quente.

Um belo dia, o coronel resolveu visitar o filho e aproveitar para tirar aquela história a limpo.

A sorte do rapaz foi o velho ter avisado que chegaria no sábado. Prevendo a sagacidade do pai, não lhe foi difícil imaginar o motivo da visita e então, cuidou de combinar com o garçom que, quando o pai fosse jantar, que lhes servisse apenas dois cachorros-quentes. E assim aconteceu.

Quando o pai viu aquela tripa vermelha dentro do pão, ficou temeroso, até chegou a inguiar, mas para não fazer feio, comeu sem reclamar. O pagamento, feito em moeda corrente, causou admiração pelo estorvo. O certo foi que, ele de fato, aumentou a mesada do rapaz.

De retorno ao interior, quando lhe perguntaram sobre a vida na cidade, o coronel respondeu:

- Gente, eu que já não gostava da cidade, de agora em diante é que não quero nem negócio. Se eu tiver de voltar lá, levarei minha galinha com farofa num saco. Vocês não imaginam que comi um tal de cachorro-quente e nem irei lhes dizer qual a parte do cachorro que comi, porque vocês não vão acreditar, mas posso lhes garantir que na capital eles aproveitam tudo do cachorro, não se desperdiça nada!

Domínio público.

Embora eu diga aqui que essa história é de domínio público, na verdade eu ouvi esse causo do meu queridíssimo Padre Arnóbio Patrício de Melo (de inigualável memória), que pode ser, inclusive, de autoria dele, pela fantástica espirituosidade que tinha.

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Filosofia de botequim:

O sábio e o parvo contribuem igualmente para a nossa formação. Com o último aprendemos como não nos comportarmos e com o primeiro, como construir.