O SONHO DE UM CORONEL MACHISTA 4º EPISÓDIO

Bom jardim uma cidade pequena, pacata e ordeira, até a ocasião que seus dois maiores latifundiários foram agraciados com a patente de coronel; “Certorio Vilela  e Ataíde Montenegro”. Porém a área pertencente ao município era enorme. E o coronel Certorio alimentava seu desejo em dominá-la na sua totalidade, queria ser o dono absoluto do município. Sua familia por tradição sempre ditou ordens na administração publica da cidade. Trinta anos mais velho que o coronel Tiburcio. Ele matinha sempre acesa a chama de ódio que nutria a rixa histórica, pela disputa de terras, entre as duas famílias.Os vilelas e os Montenegros
Desde o tempo de seus ancestrais. Casamentos entre membros dos dois clãs, nem pensar. Era definitivamente proibido pelo patriarca que estivesse como maioral, ou seja, o ancião  mais em ambas as famílias, em qualquer época. Há quem diga que o acidente que levou à morte o coronel Ataíde pai de Tiburcio tinha o dedo de seu rival, o coronel Certorio.
Pelo coronel Tiburcio as adversidades entre as famílias teriam sido sepultadas. Desde que substituiu o pai, ao falecer vitimado por uma arma de fogo, durante uma caçada. Mas coronel Certorio Jamais admitiu essa hipótese afirmando que isso seria uma abertura para uma miscigenação entre as famílias. Que o sangue Vilela, da fazenda Morrinhos jamais cruzaria com o sangue Motenegro da fazenda Bocaina. Não admitia que ocorresse essa mistura nem a seus empregados.
Enquanto Coronel Tiburcio ao contrário ponderava por uma trégua pacifica, ele cultivava o ódio histórico.
Em Bom Jardim as diversões se limitavam aos pagodes realizados nos finais de semana, com o arrasta pé correndo solto, ao som da sanfoninha de oito baixos, violas e violões. As intrigas entre agregados da fazenda Morrinhos, com os da fazenda Bocaina eram constates. Mas o coronel de Tiburcio sempre apaziguava. Seu rival ao contrário, estava sempre atirando lenha na fogueira.
Quanto pintava um circo na cidade, ou um grupo de teatro a população o acolhia de braços abertos ávida por diversões e eventos culturais. Quem comandava a ordem publica na cidade era um juiz  federal, um alferes, nomeado pelo governador provinciano. Mas sem o aval de Coronel Certorio ninguém se atrevia a se apresentar, a ultima palavra seria a dele.
Eis que num belo dia em pleno outono, chega um circo de tourada ao Bom Jardim. Seu proprietário apelidado por Cem- cem, se dizia o melhor toureiro do mundo. Um homem com aparência de indígena cor de brasa apagada, cabeça um pouco pontiaguda, de baixa estatura e barrigudo, estava mais para um polichinelo acaipirado, do que propriamente para um toureiro. Tinha como colega de arena, seu funcionário o toureiro tira teima que também desempenhava o papel de palhaço. Cem-cem e ele andaram pelos quatro cantos da cidade auto promovendo-se, o pessoal muito carente em diversão, acreditou nas qualidades descritas pela dupla, e encheram de expectativa para sua estréia. O alferes liberou seu alvará, mas o encaminhou á fazenda Morrinhos, sem o veredito de Coronel Certorio não haveria espetáculo nenhum.
Recebido pelo coronel, Cem-cem apresentou-lhe o alvará expedido pelo alferes, os olhos do coronel brilharam quase saltando fora de suas retinas, de tão contente ao tomar conhecimento que o Circo era tourada. Gritou pelo capataz Barba Ruiva, dizendo que sua missão estava suspensa, até segunda ordem. Seu capataz acabara de capturar pretête, o boi conhecido como o terror da região, e o amarrou no tronco. E conforme a ordem do coronel ele se preparava pra levar a mensagem ao seu rival, o seu proprietário, na fazenda Bocaina.
Com intenção de desmoralizar publicamente o coronel Tiburcio, ele assinou o alvará para o Cem-cem, mas com a condição que ele, coronel Certorio, mandaria Barba Ruiva, seu capataz levar o boi pretête ao circo para que o mesmo fosse torturado possivelmente até a morte.
Quando Cem-cem caminhando junto ao seu palhaço pelas ruas com seu funil de lata na boca propagando seu espetáculo e anunciando a presença do boi pretête foi uma euforia total não teve uma vivalma que não desejava ir ao circo.
Tão logo uma má língua soprou aos ouvidos do coronel Tiburcio, que seu boi estava sobre o poder de coronel Certorio e que ele deveria tomar aquilo como um afronta. Dusanjo se rebelou, selou seu cavalo e disse ao pai:- Sou eu quem vai resolver essa pendenga, vou mostrar ao coronel Certorio com quantas tábuas se faz uma canoa. Pela primeira vez, Tiburcio sentiu orgulho da filha. Cercou-a na porteira impedindo sua passagem afirmando:
- Apeia deste animar minha fia tu é importante dimais e num vai lá coisa nenhuma, aquela gente é pirigosa e ieu nun troco voismicê qui é minha fia, nem pur déis mir boi!
– Que prosa é essa meu pai tu nunca me oía dessa forma parece que pra tu eu não existo, agora ta me vendo?
Sua coraje me fez inxergá qui voismicê, é fio home qui ieu sempre sonhei tê, tumei tento disso. Obedece a seu pai. Vai guardá essa carabina, mais primero vem dá cá um abraço! Dusanjo com os olhos marejados de lágrimas abraçou o pai pela primeira vez.
Aplaudida pelas as palmas de Inhá Chica e Prudêncio que vinham acompanhados pelos soluços da mãe de Dusanjo. Estavam os três no seu encalço, ao presenciarem sua atitude apanhando a carabina do pai e saindo apressada para o curral. Seu pai só a convenceu desistir do confronto com o coronel Certorio, com a promessa de acompanhá-la ao circo no dia seguinte e capturar o boi pretête.
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 17/07/2017
Reeditado em 22/07/2017
Código do texto: T6056688
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