Assombração

Assombração

Éramos oito pessoas sentadas em volta da mesa da sala de jantar, esperando o cafezinho, quando a conversa, que durante a refeição, tinha sido corriqueira, com pequenos monólogos de boca cheia, ou grunhidos afirmativos ou negativos, foi tomando sentido e se avultando.

Estávamos recebendo a visita de duas tias, irmãs do papai – destaco aqui a capacidade dramática dos três irmãos. Qualquer um deles contando um caso de assombração, era de arrepiar. Os ouvintes ficavam paralisados, de olhos esbugalhados e, naquele momento, temiam olhar para fora das janelas e avistar o vulto negro das árvores. Um ventinho frio assobiava e balançava, de leve, as folhagens que,em pequenos ruídos, pareciam murmurar sortilégios.

Os três irmãos, de origem sueca, loiros, altos, de olhos azuis e expressivos, pareciam apostar qual deles seria o mais tenebroso:

– Então, dizia o meu pai, quando o Pedro passou de noite em frente do cemitério, surgiu um fantasma, coberto com a mortalha branca e lhe disse:

– Eu sou a alma de sua mãe...

Ficamos todos impressionados, principalmente com o tom de voz e a expressão do narrador.

Tia Janine rebateu:

– Pior foi o caso do cachorro que, junto com Da. Gertrudes, também ouviu o assobio do seu dono, que havia morrido assassinado. Diz ela que o animal ficou de pêlo arrepiado, os dentes arreganhados e saiu ganindo para se embrenhar na mata...

– Ora! Disse tia Matina, a pior, a mais dramática dos três. Ninguém tem coragem de passar, depois das dez da noite, pela figueira dos enforcados. Dizem que eles aparecem ainda estrebuchando a ameaçando: o próximo vai ser você!

Oh, céus! Que pavor!

Nisto, a nossa empregada Jane, que havia se encostado no batente da porta da cozinha para ouvir os casos, disse:

– Eu também vi a “arma” da minha mãe...

Nossa! Que noticia espantosa! Afinal, os três irmãos contavam casos estranhos que havia escutados de terceiros. Mesmo assim estávamos assustados... Imaginem só! A própria Jane tinha visto a alma da mãe, morta há muito tempo. Nós ficamos petrificados e os contadores de “causos” se assanharam:

– Quando foi? Onde foi? Como foi?

Jane respirou fundo e, cheia de si, contou:

– Foi lá no sítio, onde eu mais o pai morava. Eu tava lavando os trens da janta, lá fora, no tanque e, despois, parei um pouco e ela me apareceu, com a mesma roupa que foi enterrada, voando anssim, pertinho de mim.

– Incrível, Jane, conta logo, onde ela apareceu?

Jane engoliu em seco e, meio encabulada, completou:

– Bem na hora que eu tava agachada debaixo da amoreira...

Silêncio total. Fomos todos saindo, disfarçando o riso para explodir na varanda

Oh! Espírito indiscreto!

Christina Cabral
Enviado por Christina Cabral em 20/08/2007
Código do texto: T616086