Revista! Revista!

Antigamente era mais comum as viagens de trem do que de ônibus, tanto é que nós moradores de Raffard para ir a Piracicaba por exemplo, era só descer à estação, e aguardar chegar a composição, que ao longe vinha apitando para que os passageiros ficassem atentos à sua chegada.

A viagem de trem era para a criançada um passeio inesquecível, sendo a janela o lugar mais disputado pois dali podia-se ver nas curvas a máquina que ia na frente apitando nos cruzamentos e lá atrás, os últimos vagões, que ao passar com suas rodas de ferro nas emendas dos trilhos, faziam um barulho característico, que ao escrever essas memórias, parece-me estar ouvindo...

No trem viajavam, desde vendedores, passageiros de todas as classes sociais, e não faltavam os fiscais que passavam com uma espécie de “grampeador” com os quais furavam as passagens, fiscalizando se os passageiros tinham comprado a passagem até o destino certo.

Muitos desciam nas próximas estações, enquanto outros embarcavam, e logo o trem seguia viagem...

Numa dessas viagens, recordo-me de uma estória que era muito comentada na época, segundo a qual, dois italianos moradores de Villa Raffard, foram fazer uma longa viagem de trem e ao passar por uma determinada estação, embarcaram muitos vendedores, que dentre outros produtos, vendiam revistas, as quais traziam em uma sacola. E o vendedor fazia a propaganda do seu produto, sempre ao adentrar o próximo vagão, em voz alta: - revista, revista, revista!

Os dois irmãos perguntaram entre si: - Má que é isso qui istá se sucedendo? Enquanto outro responde: - Deve ser algum polícia que vieni qui prá revistá os passageiros, procurando alguém armado!

Para não ter problemas com a lei, os dois rapidamente pegam dos canivetes de estimação trazidos da Itália, os quais traziam dentro dos bolsos do paletó de cada um, e os atiram pela janela, antes da chegada dos revistadores...

Aliviados por terem se livrado dos canivetes antes de serem revistados, ambos disfarçadamente comentam terem sido espertos, antes de serem pegos em flagrante, enquanto passa um vendedor e alguém interrompe sua caminhada para comprar uma revista...

Enquanto o comboio segue viagem, os nossos amigos ficam em silêncio, enquanto o outro, feita a venda, continua o seu mister, anunciando em voz alta: - revista! revista! revista!

Rubens Rafard
Enviado por Rubens Rafard em 04/11/2017
Código do texto: T6161948
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