MULA SEM A CABEÇA.

- Compadre Mané:

- Você sabia que ontem eu vi uma “mula sem a cabeça”, que soltava um canudo de fogo pela boca e andava sobre as duas patas...

Na frase, o compadre Julinho dizia a seu compadre e velho amigo a sua aventura.

Não era mentira, mas também não se podia duvidar, porque o compadre Julinho gostava de falar mentira e tudo o que ele falava seria mentira ou verdade, ninguém acreditava nele. Todos os dias, toda semana ele aparecia com algum caso novo, mas sua veracidade era meio confiável.

Porém, naquela noite, quando Julinho voltava de sua pescaria, debaixo da moita de bambu, ao lado do córrego, Julinho viu alguma coisa inusitada, que estava além de sua imaginação.

Naquele dia, sua expressão não era de mentira, mas algo diferente Julinho viu e seus sentidos foram mudados para sempre. Falava ele muita mentira, mas em seus olhos ainda se via a expressão de verdade, porque quando falava, seus olhos não piscavam e sua face mudava e seu olhar era diferente da realidade.

Após sua pescaria, já feliz por ter pego mais de vinte bagres, Julinho abaixou para pegar seu material quando viu um certo tipo de clarão à frente, o qual confundiu sua visão. Seus pelos dos braços e seu cabelo eriçaram e seu corpo sofreu vários tipos de arrepios. Suas mãos ficaram trêmulas e suas pernas ficaram com pouco firmeza. As mãos em que ele segura o embornal de peixes ficaram sem a devida firmeza, chegando ao ponto de soltar o referido embornal, que se espalhou pelo chão. Tinham dois peixes, ainda meio vivos e se mexendo um pouco, e com o clarão daquilo que Julinho presenciava, foram pulando e caíram novamente no córrego. Julinho ainda ouviu o barulho deles caindo nas águas. Meio tonto, meio fora do normal, Julinho presenciou a cena a seguir:

“Quando sua visão alcançou, ele viu uma espécie de cavalo, ou seja, um animal semelhante a um cavalo, mas um pouco maior. A altura do suposto animal visto por Julinho era mais ou menos uns três a quatro metros de altura e a largura poderia chegar a dois metros ou semelhante à largura de um automóvel de passeio. Pela frente, saiam faíscas de fogo muito intensas. Uma luz muito forte brilhava nas quatro direções. Quando se locomovia, a trajetória era congênere a uma mola, fazendo uma trajetória para cima e para baixo, ora se movia para os lados, ora se movia para trás. Talvez poderia ser similar a uma bola quando está caindo e ao mesmo tempo está rolando para todos os lados”.

- É mais uma de suas mentiras, dizia Mané, em tom sarcástico e ao mesmo tempo tirando várias risadas do pobre do Julinho, que se estremecia de cólera e aos poucos não fez uma tragédia, porque o Padre José estava no local comprando algo na venda do Antônio.

- Vamos acalmar, filhos de Deus, porque a violência não gera nada, a não ser um ódio tão grande e um resultado maior no pecado, nas coisas erradas e sobretudo em uma determinada hora para praticar o pecado. Fiquem quietos, por favor. Mantenham a calma e sejam bons cidadãos, porque vocês dois são muito queridos neste local e ficará muito feio se vocês próprios saírem aos tapas. Será mais feio do que briga de cachorro.

Com estas palavras, Julinho se acalmou e pôs-se a falar, desta vez, com o Padre José, que sentando no meio dos dois, ouvia toda a estória de Julinho.

O fato permaneceu meio sigiloso por algum momento, mas foi vazado pela cidade e na manhã seguinte havia um batalhão de pessoas querendo saber informações. Julinho, muito estressado, começou a dar respostas curtas e grossas para quem lhe perguntasse. De tanta amolação, ele resolveu ir passear por alguns dias na casa de suas filhas.

O tempo passou, porém as lembranças ficaram. A estória de Julinho permanece sendo contada e comentada até os dias de hoje. Fica uma pergunta no ar:

- Será que Julinho viu a estranha criatura ou foi mais um de suas mentiras. O fato está por ai, no entanto, poderá surgir como uma futura forma de pesquisa de campo para os que conhecem ou querem conhecer os fatos estranhos.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 16/12/2017
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