O SONHO DE UM CORONEL MACHISTA 35º EPISÓDIO


Nicó chegou à praça, escoltado, como se fosse um criminoso condenado. Conduzido pelos jagunços do coronel Tenório, que ao perceberem aquela movimentação estranha fugiram em debandada expulsos pela população exaltada.
Quando Dusanjo montando o boi pretête o viu chegar amarrado sobre um cavalo, e com o rosto banhado pelo suor provocado pelo sol escaldante daquela tarde de verão. Não pensou duas vezes, saltou no chão tirou o cachecol que usava e enxugou seu rosto carinhosamente, desamarrou suas mãos e o amparou para descer da montaria. O pessoal que presenciou aquele gesto solidário a aplaudiu com uma grande salva de palmas. Perplexo por não entender nada ele perguntou:
-- Arguem aí pode mim ispricá o qui tá acunteceno aqui? Dusanjo que no momento voltava da carruagem do pai, com um cantil de água e um copo nas mãos, o tranqüilizou:
-- Calma Nicó está tudo bem agora, o pior já passou, tome um pouco de água e respire fundo, eu explico tudo! E detalhadamente ela o colocou a par de tudo que se passou até aquele momento, ele se quer sabia o porquê esteve preso na masmorra de sua casa.
Recomposto daquele trauma emocional ele pediu para falar com o pai, mas o coronel recusou, não quis ouvir o filho. O Alferes que por um tempo havia afastado retornou com um mandato em mãos expedido por ele próprio; exigindo a soltura do coronel e de seus dois capangas e a imediata retirada do circo da cidade.
Mas a população revoltada ameaçou linchar a todos eles se solto fosse inclusive o próprio Alferes que chegou a ser cuspido por alguns mais exaltados. Momento em que Nicolau usando seu funil circense se manifestou novamente:
--Senhoras e senhores distinto publico, eu aconselho ao intendente tomar as providencias cabíveis para que não haja um linchamento, o pessoal está revoltado com o coronel Certorio, e seus jagunços Zeca Priá e Tõe Perdigeiro.
Por gentileza pessoal afaste da carruagem o intendente acabou de chegar, ele prendeu o Alferes, vai colocá-lo na carruagem junto ao coronel Certorio e seus dois jagunços. Um momento, por favor, pessoal o intendente vai falar:
-- Senhoras e senhores povo de Bom Jardim coincidentemente ou não, vejo que cheguei a uma boa hora, fui designado pelo imperador Regente, para investigar o desmando provocado nesta cidade, pelo Alferes, que ao Invés de cumprir com o seu papel de juiz, deixou se levar pelo poder insano desse coronel que se julga o dono absoluto do poder estou na cidade há apenas dois dias, ninguém até este momento soube de minha presença. Embora pareça pouco esse tempo, mas ele foi o suficiente para eu, através de minhas investigações sigilosas, saber de tudo que aconteceu aqui ao longo do tempo. Vamos colocar um ponto final nesta questão histórica, travada entre Vilelas e Montenegro e que a meu ver pelo que apurei nesse curto período, deverá acabar através do empenho de um casal de jovens. Que estão tentando selar a paz destas duas famílias.
Que sejam eles os mensageiros. Estão-se dispostos a lutar por uma era de paz e harmonia com o pensamento voltado ao bem comum. Que a população desta cidade os acolham. Só assim reinará nesta terra do Bom Jardim a paz que seu povo almeja e merece. Fiquem tranquilos, pois este coronel tirano vai apodrecer na cadeia. Seu filho Nicó deve assumir o seu lugar porque, ele, o coronel Certorio, aqui, não voltará jamais, tenho provas mais que o suficiente para condená-lo a prisão perpétua.
Agora senhora se senhores o espetáculo circense está liberado podem dirigir a bilheteria e adquirir seus ingressos, e divirtam a vontade.
Vá trabalhar senhor Nicolau faça jus a essa vossa missão cultural por que este povo esta ávido por um bom espetáculo.
O intendente acompanhado por três ordenanças que atuavam sobre o comando do Alferes conduziu o coronel Certorio seus dois jagunços e o próprio Alferes que também fora preso à prisão. Onde havia uma única cela na delegacia local.

Em poucos minutos esgotaram-se os ingressos, com apenas um terço do publico que pleiteava assistir o espetáculo, mas o proprietário prometeu que se o coronel Tiburcio fornecesse o gado conforme prometeu daria quantos espetáculos fossem necessários, para que todos assistissem.
Com o circo lotado deram inicio ao espetáculo. Quatro toureiros na arena e nada de soltar uma rês se querem. O publico impaciente gritava sem parar cadê o boi onde esta o boi. Nicolau um macaco velho e experiente na arte circense enganou o publico dizendo ter entretido com o trágico episódio ocorrido naquela tarde esqueceu-se de providenciar os animais. Mas dirrepente Dusanjo mais bela do que uma cinderela surgiu no dorço do boi pretête que estava coberto por um grande acortinado ao fundo circo. Quando aquela deusa entrou na arena montando o animal a platéia foi à loucura. Ela o colocou no centro da arena murmurou a ele certas palavras incompreensíveis ao publico, ele bateu de joelhos no chão, ela escorregou no seu pescoço deu um beijinho na cara dele e disse cuidado pretête não machuque ninguém. Após saltou a cerca e assentou ao lado de Nicó que estava nas cadeiras especiais. A essa altura, ele, o filho do coronel Certorio, ao lado da garota dos seus sonhos, se sentiu o homem mais feliz do mundo!
Realmente o boi era de fato mágico, foram duas horas de espetáculo com ele brincando com os toureiros, tomando suas capas, devolvendo em seguida, se fingindo de morto, quando eles ajuntavam nele, sacudia o lombo e os atiravam longe, e ao término da apresentação com os quatro toureiros cansados sem ação postados no chão ele enfiava os chifres debaixo do toureiro e delicadamente o colava a beira da cerca encostado-se à arena lambeu as mãos de cada num gesto de despedida, deu uma volta no entorno da arena como se tivesse cumprimentando a platéia. Dusanjo saltou a cerca pra junto dele abriu a porteira do tronco, ele abaixou a cabeça ela subiu pelo seu pescoço e montando seu dorço foi se juntar à familia onde seus pais a aguardava em sua luxuosa carruagem.
Nicó foi ao encontro do escravo bastião cuidando da carruagem detida pelo intendente, assim que ela foi liberada eles se juntaram a comitiva do coronel Tiburcio e retornaram as suas residências. Ficou acertado que no dia seguinte, juntos, eles participariam de um novo espetáculo com o boi pretête. Desta vez Nicó iria à fazenda Bocaina Levando Inácia suas filhas e netas para matar a saudade da irmã Inhá Chica e de lá seguiriam para o Bom Jardim.
Quando se despediram na encruzilhada da fazenda Bocaina com Morrinhos, Venâncio e Terencio seguiram para Morrinhos a convite de Nicó. Ao chegarem Terencio saudoso de sua terrinha à beira do ribeirão emprestou de Nicó um cavalo indo pra casa de alma lavada se sentido livre das investidas do coronel Certorio em cima de sua bela Jurema.
Aliviada ao ver Nico de volta Inácia se ajoelhou no meio da cozinha da casa grande louvou a Deus em oração rezando em vós alta acompanhada pelos presentes. Vicência sua neta não redava os olhos de Venâncio. Ele meio sem jeito saiu pela porta do fundo ela o acompanhou, aí ele perguntou:
--Voismicê ta quereno mim dizê arguma coisa ô ieu tô inganado se é isso diz logo pru qui ta mim zoiano dechejeito:
--Tá inganado nun sinhô, foi voismicê memo qui mintiu pra ieu lá na Bocaina dia qui fumos visitá tia Inhá chica, falô qui divia sê seu irmão geme qui ieu sirvi café pra ele mais coroné lá no currá. Má nun era coisa niuma é voismicê memo pruquê a mintira tava cum medo de quê?
--Acuntece qui naquele dia ninguém pudia sabê qui ieu mais coroné Certorio era cunhicido, ieu tava lá mandado pur ele cum plano mode izicutá, e voismicê pudia atrapaiá tudo. Má sabe duma coisa se ieu tivesse levado a impreitada inté no finar voismicê ia sê minha o coroné tinha arrumado voismicê no valor do negoço qui ia mim paga.
-- E agora qui tão dizeno qui coroné num vorta mais, voismicê inda é capais de mim querê?
- Ma é craro quem nunqué ua leitoa murena assim das anca gorda cumo voismicê!
--Intonse pede ieu in casamento pra vó inaça ela pruseia cum Nico e nóis fica junto, ieu tem certeza qui dispois do qui voismicê feis pro Nicó ele vai dexá driitinho nois fica junto!
--Ma cumo é qui voismicê sabeu de tudo isso qui ieu fiz!
--iscuitei vô bastião contano tudinho pra vó inaça, gurica memo tá tudo mundo aqui sabeno de tudo vó inaça mandô Dasdor lá na senzala passá a nutiça pra tudo mundo, nutiça boa aqui é assim tem de ispaiá rápido mode cumemorá.
Após essa prosa Vicência passou por ele e rebolando do modo mais provocante que ela sabia fazer, entrou na cozinha, e ele ficou subindo pelas paredes de desejo pela morenassa.

 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 08/01/2018
Código do texto: T6220079
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