PROGRAMA J. SILVESTRE

Há cinquenta e muitos anos a televisão mostrava semanalmente o programa O CÉU É O LIMITE, de perguntas e respostas, comandados pelo apresentador J. Silvestre que era uma pessoa muito agradável, admirado por todos telespectadores, gentil com os participantes e que a cada acerto repetia o bordão – certo, absolutamente certo.

Por esse tempo também, nem todo mundo podia ter um televisor em casa, então os conhecidos mais chegados apareciam na hora do programa para torcer pelos candidatos, tentar acertar as respostas e ficar comentando depois que o programa acabava.

Eram os televizinhos, sempre muito bem vindos.

Na Rua Costa Gouveia tinha a Padaria Real do senhor Miguel Beirão, português, amigo de todos e que servia o cafezinho mais famoso da região, ligado à padaria, ficava o escritório de contabilidade de um senhor, desses que parece que tem o rei na barriga e que diariamente, perto das dez horas da manhã, vinha tomar um café, fumar o cigarro e trocar dois dedos de prosa com o padeiro e nessas ocasiões fazia questão de dizer que aquelas perguntas eram fáceis demais, que se fosse ele que estivesse ali, acertaria todas.

Que ele tinha conhecimento de sobra para enfrentar perguntas bem mais difíceis do que aquelas e sobre qualquer assunto, porque ao contrário daquela gentinha, ele tinha formação esmerada.

Incentivado pelo padeiro e por todos aqueles que queriam ver a sua caveira, mandou uma carta para a produção do programa para inscrever-se com o tema da participação do Brasil na segunda guerra mundial. Dois ou três meses depois chegou a confirmação de que ele tinha sido aceito.

Todo mundo ficou sabendo.

Todo mundo ficou comentando.

Os poucos amigos torcendo a favor, os muitos que não gostavam dele torcendo contra, porque pelo inusitado o fato causou o maior frenesi naquele bairro afastado aonde todos se conheciam.

Nos primeiros programas, com as perguntas mais simples para melhor ambientação do candidato, as respostas vieram fáceis e a vizinhança já não tinha outro assunto nas rodinhas de conversas.

Fizeram até bolsa de apostas para ver até onde ele chegaria.

A essa altura o padeiro já havia instalado o seu aparelho de TV no salão da padaria, colocado algumas mesas e cadeiras para que os fregueses assistissem ao programa e comprassem algo mastigável além das inúmeras xícaras de café.

Numa determinada altura do programa J. Silvestre perguntou – Qual o nome completo do comandante da Força Expedicionária Brasileira – FEB – na campanha da Itália entre 1944 e 1945 durante a segunda grande guerra?

Seu Milton, da barraca, que tinha sido soldado na guerra gritou bem alto Marechal João Batista Mascarenhas de Morais, na esperança de ser ouvido pelo candidato, mas o tempo se esgotou e a resposta não veio.

O pior desse lapso de memória é que o nome do marechal está praticamente em toda parte, quer seja em avenida, praça ou conjunto residencial em todos os Estados brasileiros.

Se fosse com outra pessoa o caso seria lamentado, esquecido e somente lembrado em raras ocasiões, mas como o senhor Antonio Medeiros, contabilista, fazia questão de ser tratado por senhor e se considerava superior a todos, o fato virou motivo de chacota.

Há quem diga que pessoas pagavam aos moleques da rua para gritarem, sem que ele atinasse de onde tinha vindo – errado, absolutamente errado.